O excesso de consciência como uma doença?!

Subtema: Ainda somos os mesmo?

Plano de Oficina: O excesso de consciência como uma doença?!

Autores: Caroline F. S. de Lima e Juliana Gazola

Ementa: “O homem é um animal político por natureza”, será? Pelo menos de acordo
com Aristóteles, sim. Espontaneidade ou necessidade? Será que o homem é tão sociável
e amável? Trabalhando em torno do contexto literário de “Memórias do Subsolo” de
Dostoiévski, a oficina irá analisar sob ótica contratualista de Hobbes, o conflito gerado
pela consciência do personagem principal. Questionando-se a respeito de sua existência
e a inércia ao qual os homens se encontram, o personagem irá intitular-se como um “homem doente” (sick man).

Disciplina: Filosofia

Nível de Ensino: Ensino Médio

Tema da Unidade: Filosofia Política

Problema: Quais as consequências que decorrem a partir da formação de uma sociedade civil? Será que a singularidade de cada sujeito frente a sua pluralidade de relações interpessoais com o “outro”, pode ser considerada sob a ótica moderna e contemporânea como uma forma autônoma relacional encontrada pelo homem para promover o estabelecimento de uma ordem de caráter equitativo? 

Período de execução do plano: 1 hora;

Objetivo geral: Problematizar questões pertinentes ao contexto literário da obra “Memórias do Subsolo” de Dostoiévski, frente a uma perspectiva contratual Hobbesiana.  

Objetivos específicos:
- Conhecer a obra “Memórias do Subsolo”, bem como o caos - desejado; acerca do personagem principal, identificando aspectos da natureza humana presentes na obra literária;
- Promover uma correlação entre o contexto literário da obra e a concepção Hobbesiana;
- Problematizar a partir da perspectiva contratualista de Hobbes, questões a respeito da origem da moralidade do homem.

Conteúdos constituidores de aprendizagem:
- Caos;
- Natureza humana;
- Contratualismo;
- Sociedade civil;
- Moralidade;

Metodologia

Introdução e sensibilização (15 min): A oficina dá-se início então com a apresentação de seus ministrantes, sendo também solicitado que cada aluno apresente-se e informe sua respectiva escola.  Em seguida, e de forma sucinta, será comentado alguns aspectos da vida do autor, assim como uma breve apresentação da obra. O ministrantes neste momento, buscaram dar enfoque principal a forte e peculiar personalidade do personagem principal. (ANEXO I).
Problematização (20 min): Seguindo o curso da sensibilização, neste momento os ministrantes lançaram para os participantes algumas questões norteadoras com o intuito de problematizar a temática principal da oficina. Com base no perfil anteriormente analisado do personagem, elenca-se as devidas questões:  
“O excesso de consciência pode ser visto como uma doença?”; “O agir do homem é
movido pela espontaneidade ou pela necessidade?” “O que nos leva a agir justamente?”
“Sociabilidade ou oportunismo
Conceitualização (25 min): Neste momento, propõem-se a parte da correlação da obra com a vertente contratualista (ANEXO II). O objetivo da aproximação será associar a ideia expressa pelo autor a respeito do caos humano, juntamente a concepção do homem em seu estado de natureza descrito por Hobbes. Da saída do estado de guerra pela busca da autoconservação e garantia de subsistência, ele irá se opor a teoria de Aristóteles a respeito da sociabilidade humana. Para ele, o homem não adentra a sociedade civil por necessidade de conviver com outros indivíduos, mas sim, por interesses mútuos. Os ministrantes deverão abordar as três fases descritas pela teoria (estado de natureza, contrato social e a formação da sociedade civil política).
Como momento de resolução da oficina, será proposto aos alunos uma atividade de encerramento do plano. Cada grupo irá receber trechos selecionadas da obra literária “Memórias do Subsolo”, sendo que cada uma delas deverá ser encaixada de acordo com seu sentido em um quadro formado por 2 das três fases contratualistas citadas: estado de natureza e estado civil político. As duas fases devem estra no topo da folha divididas por uma coluna e abaixo delas apenas o espaço para serem colocadas os trechos da obra.

Ressalta-se, que após a atividade os participantes deverão justificar para o todo o grupo os motivos que levaram a conceitualização de cada trecho.

(ANEXO I)

“Memórias do Subsolo” por Fíodor Dostoiévski: Uma aproximação entre Literatura e Filosofia

Nascido em 1822 na cidade de Moscou na Rússia, Fíodor Mikhailovick Dostoiévski foi um dos principais escritores romancistas do século XIX e também considerado por muitos, um dos precursores do existencialismo. Suas obras exerceram grande influência no movimento literário moderno, sendo caracterizadas como “romances de ideias” elas se tornam também responsáveis por influenciar várias vertentes da teologia e psicologia dos últimos tempos. A obra dostoievskiana é considerada genial por analisar estados patológicos, e explorar diretamente o cerne humano, seus personagens caracterizam-se por pensamentos desordenados, realismo demasiado, culpabilidade... – podendo ser considerados em suma: repugnantes e odiosos.
Considerado por Nietzsche, uma das “inesperadas felicidades” de sua vida, e por Freud um dos maiores romancistas de todos os tempos, o menino epiléptico ao qual teve seu pai assassinado pelos seus próprios empregados por ser considerado um tirano, busca então, retratar a natureza humana em sua pior e mais realista condição: corruptível e caótica.
A clássica obra da literatura russa com tradução para português como “Notas do Subsolo” ou “Memórias do Subsolo”, é considerada um dos principais romances de Dostoiévski e uma das mais importantes obras da literatura moderna. Nesta obra, nota-se a brilhante e admirável habilidade do escritor de aproximar-se da literalidade do agir humano.
O homem do subsolo (Underground Man) personagem principal, embora não identificado, é considerado no ponto de vista de muitos críticos literários, a personificação do homem moderno e ocidental. O personagem que ficou conhecido como “o anti-herói de Dostoiévski”, exprimindo por vezes, e de forma perturbadoramente incisiva, suas críticas a respeito da sociedade vigente na época, consolida-se então por ser um dos personagens mais peculiares e interessantes da literatura do séc. XIX e XX.

(ANEXO II)

O caos em Dostoiévski sob ótica contratualista de Hobbes

Ao longo da obra, podemos notar que a todo momento o autor busca aproximar o personagem e suas características a imagem do homem moderno. Durante a primeira parte do livro, o autor irá trabalhar com as concepções e visão de mundo do homem do subsolo. Esta primeira parte será caracterizada por suas inquietações, inseguranças, desejos e aversões. Os últimos parágrafos que se prosseguem como ponto de transição da primeira parte da obra para sua segunda parte, o autor busca apontar o caos como uma característica presente de forma intrínseca no homem. Dostoiévski busca exprimir a ideia que toda a desordem e confusão remetem de certa forma prazer ao homem. Deixando de forma explicita sua crítica à sociedade moderna, o autor responsabiliza o meio por promover determinada “inércia” desta característica primitiva do homem.
Buscando então aproximar o contexto literário da obra juntamente a uma vertente filosófica, acreditasse que o contratualismo de Hobbes consiga promover uma concepção menos subjetiva a respeito do enredo da obra. Da saída do estado de guerra pela busca da autoconservação e garantia de subsistência, Hobbes irá se opor a teoria de Aristóteles a respeito da sociabilidade humana. Para ele, o homem não adentra a sociedade civil por necessidade de conviver com outros indivíduos, mas sim, por interesses mútuos. O objetivo da aproximação será associar a ideia expressada pela autor a respeito do caos humano, juntamente a concepção do homem em seu estado de natureza descrito por Hobbes.
O homem do subsolo sendo aquele que abdica de sua natureza primeira, aceita por necessidade adentrar a sociedade civil, limitando seu agir de acordo com leis, normas, códigos de conduta e até valores morais e éticos instituídos nela - ou seja, a sociedade irá controlar a conduta humana, ao mesmo passo que o homem do subsolo terá reprimido em si os seus desejos mais obscuros e inerentes a sua natureza.

REFERÊNCIAS
DOSTOIÉVSKI, Fiódor Mikhailovitch. Memórias do Subsolo. 5. ed. Editora 34, 2004.
BOBBIO, Norberto, 1909 - Dicionário de política I Norberto Bobbio,
Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.;
coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto
Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998. Vol. 1

Nenhum comentário:

Postar um comentário