Oficina 02: Fala sério! Só porque nasci animal racional, preciso carregar superioridade irracional?

Olimpíadas de Filosofia 2015
“O cuidado com o outro: que diferença isso faz para nossas existências?".
Oficina n° 02:
Fala sério! Só porque nasci animal racional, preciso carregar superioridade irracional?
Elaborada e coordenad  por: Éverton Luis da Silva Lião e Viviana Furlan*
Problema filosófico: O cuidado com o outro, que diferença isso faz para nossa existência?/ Só porque nasci animal racional, preciso carregar superioridade irracional? Especismo é problema?
Contextualização: Existe algum desequilíbrio ou preconceito oculto entre os animais? Como a relação do homem com o animal evoluiu? Aqui estes vínculos serão explorados ao abordar a problemática passagem da posse à humanização de animais não humanos. Um olhar sobre a ética de Singer e o hiperconsumismo de Lipovetsky na tentativa humana de modificar ao outro a ponto de consumi-lo neste ato, mesmo que no intuito primeiro de protegê-lo. Quais intenções movem nossas ações diante do cuidado, acolhida ou alienação perante a importância deste outro não-humano em nossa existência. Podem existir relações ocultas de poder e submissão do outro neste nosso ato de cuidar?

Tema da unidade: Ética: sensibilização e assimilação de diferentes âmbitos de aplicação dos valores éticos diante do cuidado com o outro e sua afetividade existencial; o hiperconsumismo do outro; relações de poder; especismo. Todos com ênfase frente a possíveis  juízos éticos e a autonomia nas tomadas de decisão.

Período de execução do plano: 3h: 40 min. sendo 1h: 30min. para oficina e debate, com o restante do horário para apresentação das produções teatrais e encerramento.

Objetivo Geral:
ü  Identificar as diferentes manifestações da relação de poder entre o ser humano e os animais não humanos, percebendo possíveis problemas de um agir hiperconsumista deste outro, passando também pela abordagem do preconceito contida no especismo ou pela tentativa de humanização de outra espécie oculta na intencionalidade por trás das ações de cuidado com o outro ou sua alienação frente a esta preocupação, assimilando tais reflexões de modo a aplica-las em uma produção teatral autoral coletiva desta experiência.

Objetivos específicos:

ü  Desenvolver o hábito da análise em reflexão sobre as possíveis tomadas de decisões de fundo ético, reconhecendo a importância do outro para si e vice-versa;
ü  Produzir situações com fundos éticos de acordo com diferentes abordagens filosóficas sobre a relação do homem com o animal ao longo da história, identificando possíveis relações de abuso de poder ou necessidade;
ü  Assimilar valores éticos em suas produções teatrais, possibilitando-os a percepção prática e visual das consequências do hiperconsumismo e especismo na interação com o outro não animal;
ü  Compreender conceitos como do especismo e de pessoa em Peter Singer, ou ainda a problemática do individualismo negativo que traz ao hiperconsumismo do outro, a fim de rever a relação de poder entre as espécies diferentes e a importância do respeito a sua própria natureza, dignidade e direito a vida;
ü  Perceber a diferença entre o conceito de pessoa e de ser humano, reconhecendo que não são equivalentes, podendo existir a possibilidade de existência de pessoas não humanas
ü  Instigar ao questionamento e debate reflexivo frente ações de cuidado com o outro, a fim de perceber diferente formas de intencionalidades e consequências advindas destas, assim como sua necessidade a nossa existência;
ü  Contribuir à constituição de referenciais éticos internos crítico-reflexivos sobre o agir humano frente ao cuidado com o outro, contido nas escolhas pessoais, possibilitando deste modo a projeção de hábitos e valores em seu círculo de atuação social;
ü  Reconhecer o olhar crítico sobre seus próprios valores morais em confronto às situações criadas em debate e com o outro, identificando estas divergências como abertura a novos pensamentos;
ü  Perceber a relação entre a escolha, suas vontades e o discernimento a fim de possibilitar a autonomia e assimilação em postura ética empregada ao bem estar do outro, para além do individualismo hiperconsumista;

Início das olimpíadas de filosofia:
08: 00 à Acolhida e confraternização com abertura e socialização da temática da olimpíada de filosofia 2015 – etapa UCS.
Escolhas, divisão e encaminhamento dos estudantes às respectivas salas reservadas para cada grupo temático, já previamente separado para condução e abertura de um ambiente dialógico e reflexivo, amparando-os a participarem ativamente após um breve acolhimento e devidas apresentações. Neste momento inicial será enfatizado o tema geral da olímpiada pelo qual estão reunidos do qual surgiram sete respectivas demarcações posteriores em um conjunto de potenciais problemas existentes dentro desta abrangente temática geral.

Início da oficina temática sobre ética animal:
08: 15 à início interno das atividades em cada oficina independente.
A partir de uma sensibilização encaminhar-se-á a demarcação de uma das perspectivas compatíveis ao tema. Seguiremos abordando ao problema da relação do homem com os animais não-humanos. de modo que este grupo fique responsável por desenvolvê-lo construindo um ambiente favorável à reflexão e respeitando a demanda do tema olímpico/filosófico escolhido para este ano: “O cuidado com o outro: que diferença isso faz para nossas existências?".
Para iniciar nossa temática interna, os estudantes serão convidados a assistir um curta original de uma propaganda: https://www.youtube.com/watch?v=Xb69493-FLg. Este vídeo tem como proposta sensibilizar não somente a questão pela qual fora criado originalmente, do abandono desumano de animais ou ao maltrato dos mesmos, mas também, é almejado aqui alcançar a um problema que será constantemente aprofundado ao longo do desenvolvimento da oficina. Entre os focos de debate estarão alguns itens como: o que acontece quando o excesso de cuidado confunde-se com o poder (e tentativa) de humanizar aos animais. O que é ser o dono de um animal? Para cuidar de um animal, este precisa ser meu? O que o animal é para nós, um objeto de posse, outro ser igual a nós ou os dois? O que faz querer tê-los ou transformá-los em um integrante da família? Será que não posso prejudica-lo ao trata-lo como uma pessoa? É correto tratar qualquer animal com dignidade ou apenas os domésticos? O que vocês acham que é a domesticação de um animal? Domesticar é cuidar, possuir ou querer humanizar? Animais domésticos devem ter mais direitos que os selvagens? Ou devemos respeitá-los em sua identidade de animal como qualquer outro? Queremos humanizar os animais ou garantir direitos próprios a eles? Fazemos isso por interesse, para protegê-los de nós mesmos ou para termos o status de ‘salvadores’? Até que ponto eles dependem de nós e por quê? Qual a importância deste outro animal para nós e para o futuro? Como cuidar dessa outra espécie sem discriminá-la ou dominá-la? Devemos buscar conceder uma dignidade humana a eles ou criar uma dignidade animal em respeito ao que são? Entre outros que ocasionalmente possam surgir no decorrer do encontro.
Para que a condução do tempo ocorra dentro de uma expectativa programada, far-se-ão necessários momentos de demarcações com uso de algumas perguntas norteadoras intercaladas com temas dentro de slides, o que auxiliará tanto ao foco como à aquisição de informações teóricas para enriquecimento das reflexões e problematizações. Assim sendo, logo depois de passado o vídeo citado acima (cerca de 3min. 30seg.), partindo dele os alunos serão convidados para, a princípio, nos próximos 7 minutos elencar problemas que observaram ao longo dele, como por exemplo: a forma de tratamento ao animal, por que fora escolhido usar a representação do animal através de um ser humano, a criança? As atitudes da família para com o bicho parecem ou são erradas, por quê? Será que os filósofos já se preocuparam com questões similares ao longo da história? Como será que eles viam a relação do homem com os animais desde a Grécia antiga até os tempos de hoje? Será que ainda temos a mesma visão, evoluímos ou regredimos? Enfim, as perguntas deverão aparecer de tal modo que se construam como um ponto de partida para os slides.

Por volta das 8h: 25min será iniciado o uso dos slides que remontam algumas passagens do pensamento humano ao longo da história frente essa relação, passando por elementos favoráveis tanto à isenção como à necessidade de cuidado e dignidade estendida aos animais não humano. Essa trajetória visa elencar momentos distintos de pensamentos em suas épocas a fim de estabelecer uma projeção sobre a evolução do tratamento e da perspectiva do homem sobre os animais, explorando problemas desde a instrumentalização dos mesmos por benefícios, possíveis preconceitos ocultos na suposta supremacia do ser humano a eles, ou ainda frente à problemática do hiperconsumismo de nossa era que em seu narcisismo individualista acaba por consumir aos outros como objetos de posse. Nessa etapa entrarão fortalecidos elementos como supremacia entre diferentes espécies ou raças; a posse sobre outra vida ou ser; a humanização dos animais a ponto de anular sua natureza pela vontade de transformá-los em equivalência com os seres humanos, não respeitando a preservação de seus instintos e ambientações próprias a sua natureza e liberdade; a diferença entre ser pessoa e ser humano com a visão de Singer da possibilidade de pessoas não necessariamente humanas; o problema da indiferença e do vazio na individualização das relações e ações humanas; sem esquecermos de explorar a possibilidade de existência de um lado positivo ao individualismo, e seu reflexo na responsabilidade e meios de agir na preservação e em aprendizagem com este outro tão diferente de nós, mas ao mesmo tempo, tão próximos e de extrema importância a nossa própria existência e conhecimento. Para este cenário de construção dialógica de referenciais e reflexões serão reservados aos próximos 50 minutos. Quando chegar ao sexto slide (Sínger), caso não atrapalhe ao andamento do debate será passado o vídeo que contém um trecho de uma entrevista com Sínger sobre o assunto (https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE), apenas os primeiros 2min e 30seg iniciais são suficientes para demarcar ao problema e potencializar o cenário à reflexão. Ao final do plano seguem os conteúdos utilizados em formato de slides que alimentarão às “discussões” e ao tema durante a parte central desta oficina. Entre os slides serão combinados momentos de abertura constante a dialogia e reflexão, sendo estes apenas dados como bases à promoção de diferentes perspectivas sobre a abordagem da temática ao longo dos anos.
Encerrando ao espaço reservado para o debate, possivelmente às 9h: 20min, iniciaremos com a etapa destinada à produção autoral em forma teatral como expressão da conceituação vivenciada pelos participantes desta oficina e, com intuito de ampliar seu conteúdo ao alcance dos demais participantes dos outros grupos posteriormente durante a plenária geral de socialização que acontecerá após o intervalo e depois deste ensaio. Para esta será reservado um tempo de 30 minutos ou no máximo 40 minutos. Como auxílio estrutural à criação desta peça teatral os alunos receberão um kit com algumas sugestões de possíveis materiais a serem utilizados como recursos para garantir agilidade e enriquecimento visual devido ao curto tempo disponível. Neste kit terão: 03 máscaras de carrasco, 02 máscara de raposa e uma pele/rabo; 02 máscaras de gato; 02 máscaras de cachorro; 01 gato de pelúcia (versão de madame  ornamentado com joias); 01 onça de pelúcia; 01 coleira; 1 roupa de onça;  lápis de olho para fazer bigodes nos alunos que ficarão dispostos no coro, podendo ser adaptados mais materiais de acordo com o tempo e disponibilidade de recursos.
De posse destes materiais disponíveis, da temática de fundo e de exemplos de atitudes práticas vistos no debate, ambos agora deverão juntos elaborar uma encenação curta em que se aplique à problemática investigada nos momentos anteriores sobre o cuidado com o outro, o respeito às diferenças de cada espécie e costumes e a diferença entre possuir o outro ou cuidar do outro com a preocupação centrada na ideia de um posicionamento frente à humanização dos animais, radical ou não. Neste espaço, todos deverão participar ativamente, dividindo-se tarefas de modo que cada um tenha sua atuação, seja operando entre os papéis, ou roteiros, ou narrações durante, ou na produção de uma frase sintetizadora final, além da construção de material extra, caso necessário.

Estrutura prévia ao projeto teatral: A voz oculta do animal quando o excesso de superioridade do homem o transforma em seu objeto ou meio. Diferentes animais contracenando com humanos que se rebelam expressando indignação do como são tratados. Com uma estrutura prévia que servirá de suporte para que elaborem 02 cenas, ou de caça ou de abandono, ou do tratamento de animal doméstico como posse ou ainda de humanização do animal. Nela os 25 alunos deverão participar dividindo-se da seguinte maneira sugestionada: até doze alunos para contracenarem no plano de frente com execução de cenas lúdicas de acordo com a elaboração autoral dos mesmos em conjunto, enquanto os outros treze constituíram um coro de fundo as cenas operando com partes narrativas ou sonoplastias conforme a necessidade de suas criações, interagindo de forma complementar às cenas centrais. Ex:
*até 03 alunos para serem os carrascos serão: (Ex: caçadores, madames ou outro que eles tenham em mente.
* até 06 alunos para serem os animais na cena: de acordo com o uso das máscaras: 2 raposas, 2 cachorro e 2 gato.
* até 04 alunos para serem pessoas que demonstrem cuidado com animais na cena (Ex: alguém que entre, reprima algum personagem e saia de cena brabo, ou um mendigo que fica ao fundo acariciando um cachorro ao fundo na cena, etc..)
* os 12/13 alunos restantes ficaram em meio círculo atrás dos que contracenam formando ao coro, para que os que saírem de cena eventualmente possam se esconder dando espaço para que apenas os carrascos e suas respectivas vítimas permaneçam em frente ao coro para a finalização dramática da cena. 
Estas cenas principais seguirão podendo ser uma única em duas partes ou ainda trabalhando com duas ideias distintas, conforme adesão dos alunos. O padrão inserido à estrutura é que deve-se conter a ela o papel dos carrascos que aparecem trazendo a imitação de alguma suposta "ação ruim comum da sociedade para com os animais" de forma breve, mas significativa. As falas e cenas ficarão a encargo dos alunos durante este período de elaboração da peça e ensaio, devendo conter sons ou falas mínimas. A sugestão para cenas/falas ficará na criatividade diante do uso dos objetos disponíveis no kit para a performance em palco que ocupe no máximo 06 minutos em sua totalidade. Ainda para agilizar, como parte da pré-estrutura estarão presentes duas falas do coro. Elas demarcarão cada finalização e entrada das ações, controlando ao tempo. Delimitando cada entrada, se em duas cenas principais (com os carrascos) como momento do corte após cada ação ‘maléfica’ dos mesmos sobre os animais recitaram em coro: “FALA SÉRIO!”. Essa frase sinalizará o início da primeira cena do carrasco e, ao ser repetida, então dá entrada ao segundo. Quando começa a segunda cena, os primeiros devem manter-se congelados como estão para não interferir na encenação do outro carrasco. Quando estes acabarem, o coro finaliza outra vez a tomada recitando juntos:  "PONHAM-SE NO SEU LUGAR!". Nesta hora cada animal vítima levantará, um por vez, tirará a máscara de seu carrasco e dirá alguma frase curta que demonstre sua revolta (e que será criada em conjunto na sala durante esta organização da peça). Depois das duas vítimas falarem, novamente o CORO recitará (todos juntos) uma frase para terminar provocando sua plateia a refletir se estão sendo dignos ao cuidar dos animais (esta que também será criada durante o ensaio).

EXEMPLO das criações que surgiram para as cenas principais na etapa da UCS e em Bento na escola sede SAGRADO CORAÇÂO DE JESUS:
Na UCS: Os alunos utilizaram de carrasco um caçador que tentou atirar em duas raposas, uma fugiu buscando ajuda para sobreviver se escondendo no meio do público/plateia, enquanto a outra morreu no palco. Seguindo-se a esta, houve a outra cena elaborada por eles, onde dois gatos de rua chamam a atenção de uma criança que passeia com sua mãe (o outro carrasco), mas que ao fazer isto, é reprimida de forma autoritária pela mesma. Após a mãe arrasta sua filha para longe deles, pois os mesmos ‘podiam estar cheio de pestes’, dando a criança um gato de raça enfeitado com adereços da moda. Depois da fala Ponha-se no seu lugar! Houve a inversão de papeis onde os animais ganharam voz ao postaram-se frente a seus carrascos questionando as razões de suas ações.
No SAGRADO: alunos fizeram uma única cena utilizando aos dois carrascos como caçadores e uma onça pintada. Uma aluna ficou de árvore na qual os caçadores se esconderam para abater a onça, enquanto um atirou, o outro arrancou a pele (foi-se usada uma roupa de onça solta). Essa pele foi então levada a comercialização posta a ser vendida em um cabide onde outra ‘atriz’ surgiu como compradora compulsiva da pele. Quando houve a fala do coro: Fala sério!, aconteceu uma inversão de papeis onde a compradora teve sua pele pendurada em um cabide. E, ao final com a frase em coro: Ponham-se no seu lugar!  Seguiu-se uma pergunta em coro a plateia: Por que vestir esses egos? Nisso uma das alunas assumiu a frente e fez um comentário do que foi visto na oficina sobre os egos, a ética animal e o comportamento de superioridade a raça humana, quando se torna doentio usar o homem como medida a todas as coisa.
09:50 à intervalo

10: 15 à reunião de todos os grupos no auditório para plenária geral e socialização das atividades realizadas nos pequenos grupos. Cada grupo terá seis minutos para sua apresentação e de seu tema. Reservando mais alguns minutos para eventuais contratempos nas trocas dos grupos e posicionamentos;

11: 00 à fechamento e abertura de um espaço ao compartilhamento de experiências para algum eventual comentário pessoal sobre o envolvimento das peças na temática central.

11: 20 à entrega das lembranças e do certificado de participação com encerramento das atividades.

SLIDES QUE PODEM SER UTILIZADOS COMO REFERENCIAIS A ENRIQUECER O DEBATE:

Slide 01:
Pitágoras (séc. VI a. C.): Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor”.
Pitágoras acreditava na transmigração da alma entre os seres, qualquer um de nós poderia nascer como animal ou vice-versa. Assim, os membros de sua comunidade procuravam não matar ou consumir animais já naquela época.
Aristóteles (séc. IV a. C.): ao classificar a alma em três partes: vegetativa, animal e racional, colocou os animais como inferiores aos seres humanos, pois mesmo tendo percepção sensorial, seriam irracionais. Assim, limitavam-se a agir apenas por instinto, não podendo desenvolver interesses próprios. Portanto, sua existência menor seria ligada a servir aos homens.
Slide 02
Descartes (séc. XVII d. C.): defendia que animais não possuíam “alma”, pois acreditava serem compostos apenas de corpos, que funcionavam como meras “máquinas autômatos”, ou seja, além de não pensarem, nem sequer sentiria dor ou prazer. Portanto, não havia problemas em usá-los ou mata-los por qualquer benefício ao homem.
Exemplo: O papagaio tem o órgão para falar, mas lhe falta algo de natureza não mecânica, uma alma racional. As habilidades nos animais são tão restritas como às de um relógio que funciona mecanicamente, mede o tempo com mais precisão que o homem, mas nem por isso podemos afirmar que seja dotado de razão.
Slide 03
Voltaire: em resposta a Descartes, escreveu:
“Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? [...]  Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas.”
Shopenhauger (séc. XIX d. C.): “amaldiçoada toda moralidade que não veja uma unidade essencial em todos os olhos que enxergam o sol”. Com estas palavras acusava a moral humana de ser cegamente seletiva.
Slide 04
Rousseau (séc. XVIII d. C.): “Em cada animal não vejo senão uma máquina engenhosa, à qual a natureza ofereceu sentidos para recompor-se por si mesma, e para defender-se, até certo ponto, de tudo o que tende a destruí-la ou estragá-la. Percebo exatamente as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de que a natureza faz tudo nas ações do animal, enquanto o homem concorre para as suas, na qualidade de agente livre”.
Percebes a sutil mudança de pensamento, ainda que não racionais ou livres como o homem, animais possuem sensações e emoções?
Isso garante alguma forma de respeito e responsabilidade do homem sobre seu sofrimento?
Ambos, homem e animais não humanos, deveriam ter para si o mesmo direito diante de abusos e mal tratos desumanos?
Afinal, animais têm, ou não, uma alma, seja ela instintiva ou racional?
E antes disso, é realmente necessário que a razão seja o critério para selecionar quem tem direito a vida ou mereça cuidados?

Slide 05
Kant (séc. XVIII d. C.): fala sobre direito à dignidade humana, afirmando que somente as pessoas poderiam ter dignidade e respeito.
Pessoa em Kant representa todo ser racional. Outros pertenceriam à classe de coisas com valor instrumental, de utilidade para o homem.
Na moral kantiana, o homem deve ter seu direito à vida garantido por lei e, quando pessoas fossem utilizadas como um meio por outras ou para algum fim, teriam sua dignidade ferida/ roubada.
Mas tudo que não é racional, por não ser pessoa, pode então ser usado como um meio ou satisfação própria?
Será que todo homem é racional?
Ser pessoa é o mesmo que ser humano?
E estas exceções entre os seres humanos podem ter os mesmos direitos, já que não estão em sua plena capacidade?
Slide 06
Peter Singer (1946): defende que a questão moral de direito ao respeito não condiz com o fato de um ser ter ou não a capacidade de pensar e falar, mas antes disso, se ela pode sentir.
Singer acredita ao longo da história, confundimos o conceito de pessoa com o ser humano, naturalizando-os como equivalentes, o que não são:
Homem: pertencente a raça homo sapiens (pensante ou não). Incluem-se fetos, psicopatas, portadores de deficiência mental ou indivíduos em coma.
Pessoa: ser de certas habilidades humanas, tais como: ter autoconsciência, ser senciente, capaz de desejar, de expressar intencionalidades (interesses) ou projetar ações futuras, reconhecer-se como existente no espaço/tempo continuamente. (Ex. macacos e alguns animais em graus menores).
Se nem todos os seres humanos podem ser considerados pessoas, nem todos mereceriam respeito e dignidade. Mas, todos são defendidos por lei?
E, se outros animais não-humanos pudessem vir a se encaixar neste mesmo perfil de pessoa. As exceções que temos não deveriam ser defendidas por lei também?
Slide 07
E, se toda pessoa tem direito à vida, defendido por lei, ao prejudicar um animal qualquer, como podemos ter certeza de que não estamos igualmente ferindo seus direitos como uma possível pessoa não humana?
Por que razão o status moral dos animais não humanos é inferior que o de seres humanos? Por que separar o direito à vida dos animais dos do homem? Diferentes espécies merecem diferentes tratamentos?
A noção de dignidade está ligada apenas a raça humana? Ser humano nos faz, de alguma forma, superior às outras formas de vida? É problema existir a superioridade de uma espécie sobre outra?
Se ao determinar que uma raça é superior a outra estivermos cometendo uma irracionalidade?
Como decidir qual vida vale mais em situações de escolha entre ambos? É possível minimizar efeitos negativos nessa seleção?
Slide 08
Lipovetsky (1944): nos alerta que vivemos numa era do individualismo, com tendência para seu lado negativo, o hiperconsumismo. Neste, tudo se torna objeto de consumo (amor, trabalho, família, amigos, animais,...)
Impera uma vontade incontrolável ou inconsciente ao prazer de ter algo novo. Desejo sem fim que se estende sobre o outro em busca da autossatisfação, mas ao poder possuir a tudo, se angústia e sofre perante o vazio e a solidão desse isolamento individual da posse.
Problema moderno: o desejo de satisfação individual acima do bem estar coletivo, a era da indiferença.
Ser indiferente é aquele ser que quer muito, em nada se apega, não tem certeza alguma, se prepara para tudo e muda facilmente de opinião.
Antes de ser uma pessoa, tornamo-nos estereótipos, sendo artificiais, da moda, inconstantes e descartáveis.
O que acontece quando o individualismo te torna o único “EU” no mundo que sente, sofre ou deseja?
Slide 09
Alguém que vive de status ou “modinhas” tem identidade ou passa a ser um objeto também?
E quando torna-se natural obter prazer ou reconhecimento a qualquer custo ou através da posse sobre o outro?
É possível ser dono de algo ou alguém que não seja um objeto? Qual o problema dessa relação de poder e posse que naturalizamos?
Existe quem use aos outros, como meio de (auto) ostentação ou satisfação?
E animais, é certo utilizá-los como meio ao benefício humano? Até que ponto? Há possibilidade de consumo saudável?
Podemos consumir ao outro com esta ideia da: “liberdade de ser e ter o que e quem quiser”?
Como transformar essa força individual presente na nossa era para além do interesse próprio, mas em algo benéfico para com o outro e a sociedade?








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