“Cuidar de si é plagiar a si mesmo”

Oficina: Michel Foucault e a Ética da subjetividade
“Cuidar de si é plagiar a si mesmo”

PIBID/Filosofia UCS
Bolsistas: Danimar Bonai e Cristian Dall`Agnol

Parte I: Apresentação do tema
Objetivo geral:
-Oportunizar o entendimento sobre as principais questões da ética Foucaultiana.
Objetivos específicos:
-Compreender o conceito de cuidado de si como essencial para a constituição da ética Foucaultiana, quando retoma os antigos com a finalidade de buscar elementos para solidificar sua teoria.
-Refletir sobre o cuidado de si como atividade valorativa da subjetividade e da liberdade, sem que isso se transforme num egoísmo absoluto, pois tem como pressuposto a liberdade.
-Entender a responsabilidade como fundante da liberdade.
Tempo de execução: 1 hora e 30 minutos.
Material: quadro, giz, vídeo, painel e muito debate. A sala será disposta pelos professores em forma de “U” para visualização de todos, e assim maior interação.
Passos da oficina
1- Apresentação (síntese geral dos objetivos).
2- Sensibilização (dilemas éticos).
3- Trabalhar com a teoria (texto referência e vídeo)

Para a preparação dessa oficina sobre o filósofo Michel Foucault utilizamos as obras A História da Sexualidade com ênfase no Cuidado de si, volume III, e o Uso dos prazeres, volume II, Vigiar e Punir e a Microfísica do Poder. Nosso intuito é estabelecer um ritmo de diálogo interativo com os estudantes tendo em vista o entendimento sobre o tema em questão e a validade de tal para a ética contemporânea.

Parte II: Sensibilização (dilemas)

Nesse momento a sensibilização pensada pelos professores se dará como forma de introdução ao assunto mediante a exposição problematizada de questões éticas importantes no que tange do contexto atual em relação à moral, a vigilância, os cuidados consigo, as suas práticas, quem a faz, se alguém possui o direito de exercer controle sobre outras pessoas. Câmeras por toda parte, contas em redes sociais são coisas que se tornaram comuns atualmente, porém cabe problematizarmos esses fatos tendo em vista pensar a importância da subjetividade, das singularidades de cada ser em que pese buscar estabelecer o lugar de um cuidado de si, de uma cultura de si nesse contexto de “desleixo” ou “preciosismo” quanto à vida humana, sem que tudo seja válido pela subjetividade no sentido de falta de responsabilidade consigo e com o outro.
Questões iniciais feitas rapidamente aos estudantes para debate ao longo da oficina:
Como funciona nosso mundo hoje? É possível e necessário a felicidade, o prazer, o controle das ações, o cuidado consigo, o respeito nas relações humanas? Como pensar um cuidado de si recíproco e não egoísta? Como pensar o outro na relação sem oprimi-lo? É possível uma sociedade sem cuidados? A liberdade e a responsabilidade podem coexistir? Como se constitui um sujeito moral?
São algumas das questões que irão marcar o percurso do debate como o intuito de instigar a reflexão dos estudantes sobre o pensamento de Foucault, além de como deve se suceder as transformações sociais e individuais sem altas doses de opressão da pessoa e supressão de suas singularidades e possibilidades de constituição moral.

Dilemas éticos e morais para a sensibilização
A noção de ética trabalhada aqui se refere a princípios de conduta mais gerais, por sua vez, a ideia de moral está ligada a de valores e regras mais imediatas ao sujeito que guiam sua tomada de posição, sempre orientada por um princípio ético central. Um sujeito moral age apenas devido a um dever pré-estabelecido, mas, com efeito, age visando que tal prática o constitua como senhor de si, agente autônomo da sua vida, que se responsabiliza pelas consequências de suas ações, e dessa forma, pelo outro que não é ele. Existem dois aspectos importantes em relação a essa constituição, a saber, estar constantemente ligada a modos de subjetivação do sujeito e códigos de comportamento. Assim Foucault descreve alguns aspectos da ética e moral, através do método arqueológico e genealógico, caracterizados, respectivamente, pelo primeiro ser um estudo dos princípios, das problematizações, já a genealogia é o estudo das transmissões dos princípios e suas problematizações.
Os dilemas morais descritos abaixo possuem a finalidade de instigar os estudantes a refletirem sobre as práticas éticas vividas socialmente, muitas vezes tidas como normais, mas, que, no entanto, possuem pouca eticidade em seu conteúdo. É uma forma de sensibilização que tende a se aproximar bastante da realidade do estudante, e dessa forma obter êxito no que tange o pensamento sobre tais questões. Os dilemas serão pronunciados de forma interrogativa para a turma ou possivelmente escritos no quadro como referência para o debate. Cabe destacar que muitos deles talvez não pareçam complexos se pensados inicialmente, porém ocorrem com frequência, o que deixa a questão um tanto contraditória.
  1. Trem descontrolado:
Os estudantes terão de se posicionar sobre o dilema com argumentos.
“Um trem vai atingir 5 pessoas sobre uma linha. Mas você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa”.
Temas como a quantidade, qualidade, proximidade, impactos econômicos das pessoas que estão em cena possivelmente irão entrar na discussão entre os professores e estudantes, mediante argumentos pragmáticos, humanísticos, egoístas, altruístas.
  1. Promessa:
Os estudantes terão de se posicionar sobre o dilema com argumentos.
“Um amigo quer lhe contar um segredo e pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que atropelou alguém, e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima. Quando a polícia o procura querendo saber do amigo, o que você faz?”
Nesse dilema iremos trabalhar com ênfase aos limites das relações de confiança entre as pessoas para uma convivência saudável, levando em conta ate que ponto devem ser mantidas. Pontos como o nível de profundidade da relação talvez influenciem na decisão. Mas é cabível indagar: independente disso há sempre um certo e um errado? Pode variar de acordo com a cultura?
Parte III: Teoria em discussão (texto referência e vídeo)

Iremos trabalhar com um texto referência que segue abaixo associado a um episódio do seriado “Black Mirror” denominado “15.000 méritos” que possui a finalidade de instigar a reflexão acerca de alguns aspectos presentes na sociedade atual que tendem a docilizar e disciplinar as pessoas, ao mesmo tempo em que transmite uma pseudo impressão de liberdade e ação. Nesse sentido nossa intenção é a partir do vídeo mais a teoria Foucaultiana de discutir com os estudantes categorias como:

1- Liberdade/Passividade.
2- Mérito/virtude.
3- Trabalho/diversão.
4- Tecnologias (TV, celular, reality shows).
5- Controle-estimulação (consumo alienado).
6- Singularidades.

Pediremos aos estudantes o que acharam do vídeo e que aspectos são relevantes para discussão no que tange a ética e a moral com o cuidado de si? Para tanto os tópicos acima mais eventuais sugestões dos estudantes serão anotadas no quadro e debatidas.

Sobre a história do vídeo: (referência para os professores durante a discussão)

Questão a ser trabalhada com os estudantes: um mundo dentro dos mundos por meio das tecnologias que se afastam dos cuidados consigo
Ambientado em um futuro high-tech, o episódio traz como protagonista Bing, apenas mais um entre milhões de sujeitos de uma colônia que nada faz além de pedalar em bicicletas geradoras de energia. Energia que é consumida pela sociedade, assim trabalham para “viver” e se “divertirem” tendo em vista a vida, sendo uma espécie de circulo vicioso e enganoso, cuja única maneira de se distrair é assistindo a infindáveis programas de TV ou adquirir novos e inúteis aplicativos. O contato interpessoal, as amizades, os cuidados consigo, as individualidades, a responsabilidade por si e pelo outro, quase que inexistem em razão de que cada pessoa está focada em seu mundo imaginando que aquilo é o universo condensado.
Nesse contexto todos se vestem de cinza e as únicas cores vêm dos shows exibidos forçadamente aos habitantes do local e dos âncoras dos programas, que existem apenas como uma maneira de evitar uma revolta completa da população da colônia, o design transmite a impressão de que os personagens vivem dentro de um Windows Phone. Também há uma grande crítica ao consumismo desenfreado e os desnecessários excessos tecnológicos, cada vez mais inúteis e tão presentes na vida cotidiana. A tecnologia sensível ao movimento fará das pessoas prisioneiras. 
Questão a ser trabalhada com os estudantes: relação entre episódio e a caverna do Platão
O universo do vídeo tornou-se tão anestesiado que a própria crítica a ele, quando o protagonista confronta os jurados, torna-se mais um de seus programas, podendo ser feita uma analogia à Caverna de Platão, em que pese o protagonista como um filósofo vê além da caverna e mostra para as pessoas que o que elas vêem não é real, são apenas sombras da realidade. No episódio, o mito é de certa forma invertido, e a própria Caverna e seus iludidos fazem do filósofo mais um de seus programas. A “verdade” se transforma em um programa de TV.
O vídeo também sugere que seremos seduzidos voluntariamente a desistir de nosso livre-arbítrio e intelectos em troca de mais e mais gratificações instantâneas, de modo, que, no momento em que o laço estiver fechado em torno de nós, vamos estar muito ocupados pedalando (trabalho) e não fomos instruídos a fazer nada para mudar isso. Note que não há policia ou controle mais rígido, pelo contrario o poder é exercido numa microfísica das relações, que a primeira vista aparenta liberdade, porém muito mais aprisiona.

Conceitos centrais a serem trabalhados (na perspectiva Foucaultiana)

1- Ética e moral.
2- Epimeléia.
3- Cultura de si / Cuidado de si.
4- Práticas de si (Exame de consciência, exame do pensamento, provações, conversão a si).
5- Uso dos prazeres (sexual, bebida, alimento).
6- Sujeito moral (histórico).

Foucault é entendido como um filósofo da subjetividade, o que significa dizer que sua preocupação inicial é o sujeito a partir da noção do que ele pode fazer, enquanto sujeito de si, para modificar o contexto em que vive. No caso, primeiro ele surge e se entende, se reconhece, posteriormente, passa a atuar em relação a si e a sociedade, diferentemente de outros filósofos como, por exemplo, Levinas que pressupõe uma alteridade antes da relação com o outro. Em que pese Foucault trabalhar com a ideia de que devemos ser responsáveis pelo outro sem fazer menção a ele em cada tomada de posição. Dessa forma, existem preceitos gerais de conduta, no entanto, a ética e a moral se constroem em grande medida nas relações do cotidiano. É nesse sentido que ele busca estudar alguns textos gregos para entender a relevância destes para se entender a ética e a moral, tanto do período antigo Greco-Romano como também de meados do século XVIII até seus dias de vida no século XIX.
Nesse âmbito irá surgir uma preocupação consigo, com os prazeres, os regimes de provação, uma ética do domínio que implica numa conversão a si do que seja correto fazer com a subjetividade. Verifica-se uma certa austeridade sexual nesse estudo, o que, entretanto, não se transforma em um código de proibições universais sobre o que se deva fazer, pelo contrário, há muito mais uma preocupação, entre os antigos, em buscar o equilíbrio das ações situando-se entre o excesso e a falta do que propriamente elaborar um código de proibições severo, ainda uma estética da existência. A partir dessa ideia é que a oficina seguirá seu curso dialogado-expositiva com questionamentos iminentes aos estudantes.

Ética Foucaultiana em debate
Nesse momento teremos um trabalho minucioso com os estudantes sobre a teoria ética em Foucault, mediante perguntas centrais que deverão fomentar um debate, a partir da explicação dos professores sobre o significado conceitual mínimo sobre o que seja tal questão. No entanto, espera-se um muito mais um debate do que simples exposição de argumentos pelos professores.
Questão a ser trabalhada com os estudantes: Como Foucault se localiza historicamente? Quais seus métodos (arqueológico, genealógico e biopolítico)?
Foucault é um autor do século XIX que escreve sobre filosofia, história, e busca entender a partir de “Vigiar e Punir” como se constitui o quadro de relações de poder que permeavam a sociedade francesa e européia de maneira geral, a partir de meados do século XVIII no que se refere ao sujeito e o seu disciplinamento, controle. Relacionando a história das prisões, dos hospitais, das escolas, das fábricas e o que elas têm em comum no esquadrinhamento do sujeito. Tomando a categoria de panóptico (grande plano óptico), já citada por Jeremy Bentham, como central para entender a sociedade disciplinada em que se vivia em que pese o poder seria visível e inverificável no que tange o sujeito fazer as coisas não tanto por sua deliberação, mas, sobretudo, devido ao fato de que possivelmente está sendo observado.
A sociedade já se organizou de várias formas ao longo da história, sendo que com a chegada do século XVII em diante passamos de uma sociedade do controle-repressão para o controle-estimulação. Mas o que isto significa estudantes? Quer dizer que qualquer sujeito pode fazer qualquer coisa, como, por exemplo, comprar várias drogas farmacêuticas no que tange a estas serem legalizadas, e não comprar maconha por esta não ser legalizada. Contudo, o ponto a ser destacado é que tanto uma como a outra podem causar os mesmos efeitos, dependendo do caso, não obstante, de acordo com as instâncias de poder que permeiam a sociedade uma é aceita e a outra não. Nesse sentido fazendo uma análise mais ampla do que é proibido ou não socialmente, o fato é que se devem investigar os motivos, os porquês para se argumentar em favor ou contra.
Na “História da sexualidade: O Cuidado de Si” o filósofo irá buscar trabalhar com a ideia de cuidado de si como elemento primordial para uma verdadeira constituição de si. Nesse sentido utiliza categorias chaves como a epimeléia, as práticas de si, os cuidados consigo, o regime dos prazeres, a ética do domínio. A finalidade desse trabalho genealógico é verificar a importância do sujeito em relação a ele e a sociedade no que tange à afirmação da potência da vida de cada ser, o mesmo e o outro, sem, contudo, tal relação se constituir num egoísmo absoluto. Lembrando que ele também faz um trabalho “arqueológico”, caracterizado pela análise dos princípios, das problematizações feitas a partir deles.
Nossa hipótese final a ser vista com os estudantes é que através dos estudos Foucaultianos, excepcionalmente nas obras da História da sexualidade volumes II e III podemos chegar não a um código austero de proibições no que tange a sexualidade ao longo da história, embora isso ocorra em muitos momentos, mas, sobretudo, é na perspectiva de trabalhar com a noção de cuidado de si como valorização do eu e também do outro se levando em consideração que só o ser que cuida de si pode cuidar do outro.
Questão a ser trabalhada com os estudantes: O cuidado de si difere do egoísmo?
O cuidado que se deve ter consigo é algo que ultrapassa os limites da simples aparência. Tal atividade se torna necessária aos sujeitos que desejam uma vida plena e inteiramente bem vivida, não apenas em frangalhos. No caso, uma vida em que o sujeito se basta a si próprio mesmo que seja importante ter relações com outras pessoas tanto num nível privado, familiar ou social. Esse é um aspecto importante no estudo Foucaultiano, pois, com efeito, só o ser pode cuidar-se de si, os animais, por exemplo, já receberam, de antemão, a natureza como princípio supremo de suas ações de forma que não podem e nem conseguem fugir do seu instinto.
Questão a ser trabalhada com os estudantes: O que são e para que servem as práticas de si?
As práticas que constituem o ser humano, enquanto senhor de si mesmo estão ligadas a temas importantes. Primeiro, temos as provações de forma que tais procedimentos se fazem necessários não tanto pelo resultado imediato, que mostra à pessoa que ela não precisa de determinado objeto naquele instante, mas, sobretudo, lhe indica que numa situação de infortúnio futuro, ela pode sobreviver sem determinada coisa. Assim, Foucault, cita o atleta que se desgasta fisicamente em alguma atividade e, posteriormente, aprecia mentalmente uma bela mesa com vários alimentos apetitosos, porém, ao invés de saciar-se com tais alimentos, ele acaba por renegar aquilo e se saciar com a comida dos escravos. Isso denota claramente a questão de se aprender a valorizar cada coisa, excepcionalmente, as que geralmente são percebidas como simplórias. Podemos analisar essas práticas de si feitas na antiguidade clássica não como uma simples sinecura penosa visando não cometer nenhum erro, outrossim, como uma forma de ascese que busca uma vida equilibrada, e, por conseguinte, bem vivida. Diferente da perspectiva da Igreja Católica que vai criar vários tabus com o advindo do período medieval, excepcionalmente em relação ao sexo, aos parceiros possíveis, à noção de pecado.
Segundo, temos o exame de consciência, que deve ser feito pela manhã e pela noite. O exame da manhã serviria como forma de revisão geral sobre as possibilidades de ação da pessoa durante o seu dia, algo sem tanta cura. Por sua vez, o exame da noite deveria ser mais detalhado e feito em um local isolado, sem luz, som, movimento, tudo isso para que a reflexão se fizesse de maneira profunda em que as melhoras morais, os vícios, as virtudes fossem perpassadas detalhadamente. Perguntas como: Em que melhorei hoje? De que vício me curei? Que virtude desenvolvi? São questões que estariam na pauta da auto discussão, contudo, é essencial ressaltar que o substancial da tarefa era entender o motivo pelo qual tal atitude não teve êxito, e não pura e simplesmente sua forma com vistas a delegar uma punição para aquilo.
Terceiro, há uma regra de pensamento que deveria ser aplicada a si mesmo em cada ação do dia servindo como uma espécie de subsídio ao preceito, visto que, esta teria a função de não aceitar nada que não fosse verdadeiro, tendo em vista não fornecer um consentimento a algo aparentemente correto, assim, a regra é conferir cada ato, tomada de decisão, negócio. Feito isso, as possibilidades de se cometer um erro seriam minimizadas, e a pessoa estaria próxima da sua excelência, o que, por conseguinte, seria bom tanto para si como também para sua sociedade. Esta tão valorizada na antiguidade Greco-Romana.
O quarto preceito, que em grande medida engloba os demais é a conversão a si, caracterizada por uma ética do domínio. Esta ética está ligada ao trabalho constante do sujeito, em tudo que lhe for cabível para manter sua dignidade, mediante o exercício constante da reflexão do que é o bem e bom para ele e também para a sociedade.
Tal conversão a si implica um labor constante, outrossim, a medida que o sujeito vai tendo acesso a ela, sua prática se torna um hábito e gera um momento de prazer absoluto, o que, posteriormente, se transforma num estado de contentamento intrínseco ao sujeito, logo, ele não precisa de nada além de si para se sentir plenamente bem e feliz. Tudo o que precisa está em si e para si, sem, contudo, isso se constituir num egoísmo absoluto. No próximo tópico do texto iremos trabalhar a concepção central da cultura de si, a saber, epimeléia que é a excelência de uma vida bem vivida.
Questão a ser trabalhada com os estudantes: Em que implica a Epimeleia?
Todas as menções e explicações quanto ao que seria o cuidado de si e suas implicações consoantes a cultura de si poderiam ser sintetizadas em um conceito primordial na cultura grega e romana, a saber, epimeléia. Tal conceito representa todas aos possíveis cuidados, ocupações, reflexões, prazeres, ordenações que se podem ter consigo mesmo e com os outros. Como mencionado anteriormente, a cultura de si implica um trabalho constante consigo na proporção que epimeléia representa um ofício no que se refere à cultura de si. Dessa forma, abarca uma reflexão acurada no que tange aos afazeres pessoais e sociais, seja na reflexão que se faz no início ou no final do dia, no consentimento que se dá as ações em sua aceitação ou recusa valorizando antes de qualquer coisa o seu ser como instância suprema de humanidade. Assim, entende Foucault quando afirma que “O termo epimeleia não designa simplesmente uma preocupação, mas todo um conjunto de ocupações; [...].” (FOCAULT, 2014, p. 65, grifo do autor).
No momento em que se pensa sobre as ações sociais que deveriam ser evitadas, ou incentivadas, refletindo sobre os aspectos bons e ruins da sua finalidade, levando em consideração que poderiam afetar a humanidade do outro em algum aspecto está se efetivando um nível importante da prática da epimeleia. O mesmo ocorre no trabalho de si para consigo, e a subsequente comunicação com outrem em que pese há uma preocupação intrínseca ao ato de pensar as possibilidades de constituição do mesmo e do outro. Outrora, não existindo uma fórmula precisa que seja válida universalmente, porém um conjunto de preceitos gerais que devem ser revisitados diariamente tendo em vista não esquecê-los ou mesmo se apossar mais detalhadamente deles visando sua excelência em relação à conduta humana. Esse é o papel do sábio. Os filósofos, por serem mais experientes e voltados a atividade crítica contemplativa são uma boa referência para o que seja melhor, visto que sua vida não objetiva necessariamente lucros materiais, mas, sobretudo, a busca pela sabedoria. O que só se consegue pelo exercício constante e equilibrado da inteligência, das emoções, da razão, que se transformam em sabedoria com o percurso temporal.
O equilíbrio entre as funções parece ser a concepção basilar da cultura de si de forma que isso implica em exercícios físicos e mentais feitos regularmente de modo sadio. Nesse caso, todo excesso ou falta tende a desregular as relações, e, por esse motivo, gerar um ser humano doente. Se a doença/pathós é de ordem física se torna mais fácil identificar e tratá-la, sem embargo, caso a doença seja de ordem psíquica a questão se complexifica, a despeito de que muitas vezes não é notada, ou se for, pode ser tomada por alguma virtude enganosamente como, por exemplo, uma pessoa tímida que é tomada por prudente.  Portanto, a Epimeléia é a excelência do ser humano no que tange uma vida bem vivida, e, assim equilibrada.
Desempenho
A verificação do entendimento dos estudantes quanto a compreensão do conteúdo dar-se-á pelos professores através da análise dos seus argumentos durante o debate.
Referências
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
__________Vigiar e punir: nascimento da prisão. 25. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
__________. História da sexualidade 3: o cuidado de si. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque. São Paulo: Paz & Terra. 2014.
__________História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque. São Paulo: Paz & Terra. 2014.

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