O passado nos pertence? E o futuro vai acontecer?

X Olimpíada de Filosofia Do Rio Grande Do Sul
Se nossos passos vêm de longe o que sabemos de nossas heranças ancestrais?
Subtema: Ainda somos os mesmos?
Ementa: Pensamos igual aos nossos antepassados? Como se origina nosso pensamento?
Parece existir uma mudança de conteúdo, mas não de estrutura. Nesta oficina voltaremos ao período do Iluminismo para buscar respostas com David Hume, que nos deixou estudos sobre a natureza do entendimento humano. Quem for interessado por História e Ciência ficará surpreendido com o sentido que Hume dá a essas duas grandes bases do conhecimento humano.
Autores: Éverton Luís Ferri e Mateus Maciel

Objetivos:
  • Apresentar um pouco da história da filosofia moderna, e dar uma ênfase especialmente a tese de David Hume;
  • Provocar os alunos a responderem a pergunta do subtema: Ainda somos os mesmos?
  • Relacionar a investigação sobre o entendimento humano de Hume com a pergunta de subtema;
METODOLOGIA
9:00 horas iniciam as atividades de aplicação das oficinas.
1° Parte (7 minutos):
  • Apresentação dos oficineiros;
  • Pergunta direcionada aos alunos: Ainda somos os mesmos?
2° Parte (18 minutos):
  • Sensibilizar o ambiente utilizando a música pais e filhos do grupo Legião Urbana, para adentrar em uma apresentação da tese de Hume, partindo do refrão da música: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar na verdade não há.”
3° Parte (20 minutos):
  • Apresentação da relação feita entre uma citação de Hume e a pergunta de subtema;
  • Pergunta direcionada aos alunos: Qual a posição de vocês frente essa perspectiva?
4° Parte (20 minutos):
  • Propor aos alunos que produzam alguma atividade que responda o subtema das olimpíadas para demonstrar ao público maior suas posições e compreensões da oficina;

PARTE 2 EXPANDIDA:
1.    David Hume (1711-1776, período do iluminismo);
2.    Escocês de família nobre (Pressão dos pais para se formar como advogado, para seguir com os negócios do pai);
3.    Direito (Inicia o estudo do direito, mas seu interesse o faz mudar de atividade);
4.    Filosofia (Então decide fazer filosofia pois sempre foi o seu grande gosto);
5.    Campo epistemológico (Empirista radical, ou seja, todo o conhecimento advém da experiência);
6.    Percepções (O conhecimento advém da experiência através das percepções);
7.    Impressões e Ideias (As percepções se distinguem em dois tipos na mente, exemplos);

Impressões

  • Se queimar (Contato do tato com algo quente);

  • Ver algum objeto (Contato da visão com o mundo exterior);

  • Ouvir algum som (Contato do ouvido com algum efeito sonoro);

  • Sentir algum cheiro (Contato do olfato com a fumaça por exemplo);

  • Comer alguma coisa (Contato do paladar com alguma coisa);                        


Ideias

  • Algo quente (imagem impressa de algo sentido pelo tato);

  • Luz e escuridão (imagens impressas pela visão);

  • Barulho e silêncio (noção impressa pelos ouvidos);

  • Fumaça (imagem impressa pela visão e pelo olfato);

  • Água e comida (Imagens distinguidas pelo paladar);

8.    Relações de fatos (Advém do hábito/costume de que objetos já sentidos causarão efeitos semelhantes continuamente, o que nos leva a crer em uma lei natural de causalidade). Daí decorre o surgimento de ideias como: Determinismo, uniformidade e necessidade. Exemplos:
  • Sempre que houver fogo, haverá fumaça;
  • O sol sempre nasceu então necessariamente ele nascerá amanhã;
  • Sempre que uma pedra for lançada para cima ela irá cair;
  • Toda vez que uma bola de bilhar em movimento encontrar outra bola em repouso causará necessariamente um efeito de movimento na bola em repouso;

9.    Relações de ideias (Matemática e geometria). Daí decorre a soma, a subtração, a multiplicação e a divisão de ideias. Exemplos:
  • Anjos;
  • Lobisomens;
  • Vampiros;
  • Centauros;
  • Pégaso;

PARTE 3 ESPANDIDA:
Ainda somos os mesmos?
“Admite-se universalmente que existe uma grande uniformidade entre as ações dos homens em todas nações e idades, e que a natureza humana permanece sempre a mesma em seus princípios e operações. Os mesmos motivos sempre produzem as mesmas ações. Os mesmos acontecimentos seguem as mesmas causas. A ambição, a avareza, o amor-próprio, a vaidade, a amizade, a generosidade, o espírito-público: estas paixões, misturadas em vários graus e distribuídas através da sociedade, têm sido desde o começo do mundo e continuam a ser origem de todas as ações e empreendimentos que já foram observados entre os homens. Quereis conhecer os sentimentos, inclinações e gênero de vida dos gregos e romanos? Estudai bem a índole e as ações dos franceses e ingleses: não podereis enganar-vos muito se transferirdes para os primeiros a maioria das observações que tiverdes feito sobre os segundos. A humanidade é mais ou menos a mesma em todas as épocas e lugares, de tal sobre a História nada tem de novo ou de estranho para nos contar sob este aspecto. Sua principal utilidade é descobrir os princípios constantes e universais da natureza humana, mostrando homens em todas as variedades de circunstâncias e situações e fornecendo-nos materiais para nossas observações sobre os móveis habituais da ação e da conduta humana. Esses registros de guerras, intrigas, facções e revoluções são um tesouro de experimentos pelos quais o filósofo político ou moral fixa os princípios da sua ciência, assim como o filósofo físico ou natural toma conhecimento da natureza das plantas, minerais e outros objetos exteriores pelos experimentos que faz a seu respeito. ” (HUME. 1973, p. 163).
Isso é o que Hume vai chamar de conjunção constante de acontecimentos semelhantes, de onde provém a ideia de necessidade.
A relação da citação de Hume com a pergunta, ainda somos os mesmos?
O ato de emocionar-se por mais divergente que seja para cada indivíduo particular, possui uma limitação enquanto ação e parece ser identificado pelos seres humanos através de termos conforme vemos nos exemplos a seguir: X foi traído e teve uma crise de raiva, ou, Y caiu e entristeceu, ou ainda, Z foi promovido e ficou alegre. Cada termo contém em si mesmo a estrutura de atividade de alguma emoção humana que é compartilhada no senso comum.
Essa estrutura das emoções parece ser uma limitação de como os seres humanos sentem os afetos do mundo, e a história da humanidade nos imprime uma ideia de necessidade quanto a natureza humana ser estruturada nesse quadro de mecanismos sensíveis.
Devo deixar claro que minha intenção aqui é demonstrar que até agora a natureza demonstrou ter uma uniformidade em suas atividades e por isso, segundo David Hume, nós seres humanos criamos o hábito e a crença em uma necessidade de causa e efeito.
Então partindo dessa crença na uniformidade natural das coisas, imaginemos que os seres humanos enquanto seres naturais também possuem uma uniformidade, no sentido de possuírem  uma estrutura limitada de mecanismos subjetivos. Esses mecanismos permitem ao ser humano formar uma espécie entendimento do mundo.
Segundo Hume o ser humano conhece através das percepções e existem duas formas de perceber o mundo, são elas: percepções fortes (impressões) e percepções fracas (ideias). As impressões são consideradas por Hume a forma mais confiável de conhecimento que os seres humanos têm, por serem imagens mais fortes que nossos sentidos imprimiram das experiências que passamos. Já as ideias são impressões de algum tempo atrás, ou melhor, são imagens de impressões que já se teve e que se tornaram percepções fracas, destas pode ocorrer a RELAÇÃO DE IDEIAS.
Exemplo de uma relação de idéias: Ao ver e perceber um lobo nossos sentidos imprimem uma imagem desse lobo, e desta impressão geramos uma ideia de lobo, assim é esse mecanismo humano de perceber todas as coisas do mundo sensível. Também temos uma ideia de ser humano imprimida de nossos sentidos. A relação de ideias acontece quando relacionamos a ideia de lobo e a ideia de homem e formamos um homem lobo ou como conhecido um lobisomem. Isso acarreta que as ideias não necessariamente tenham correspondência no mundo objetivo sensível, o que não é o caso das impressões que sempre irão advir dos nossos mecanismos subjetivos sensíveis.
“Hume queria retornar à forma original pela qual o homem experimentava o mundo. Para ele, nenhuma filosofia que não aquela que chegamos pela reflexão sobre o nosso cotidiano seria capaz de nos conduzir para além dessas mesmas experiências cotidianas.” (GAARDER. 1995, p.288).


REFERÊNCIAS

Gaarder, Jostein. O mundo de sofia: romance da história da filosofia / tradução João Azenha Jr. - São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Hume, David. Investigação sobre o entendimento humano / tradução: editora Atlântida, Coimbra (Portugal) e Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo. - Editora Globo S.A., Porto Alegre, 1973.

Hume, David. Resumo de Um tratado da natureza humana/ tradução Rachel Gutiérres e José Sotero Caio. - Porto Alegre: editora Paraula, 1995.

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