Textos dos estudantes do IFRS - Bento Gonçalves - sobre a questão central de nossa
Olimpíada: Qual o Caminho para a reconstrução de nós mesmos?
A
reconstrução de nós mesmos
Germano Bruscato Corrêa
Irei expor aqui
possibilidades de reconstrução da sociedade, demonstrando possíveis respostas
sobre a realidade atual de nosso meio, e apresentando como solução uma mudança
como base a educação, explanando a concepção bancária dela de Paulo Freire e as
possíveis aplicações da mesma numa tentativa de reconhecimento pessoal e
reconstrução.
A Antropologia Cultural diz
que não nascemos humanos: nos tornamos. O convívio do ser humano com outro cria
a condição na qual nos torna, definitivamente, seres humanos. Pensando dessa
forma, concluímos que diversos dos problemas da sociedade - como preconceito,
sexismo, estereótipo, entre tantos outros - nos é imposto desde criança.
Crescemos com essa carga e convivemos diariamente, sendo que muitos a
consideram normal. Partindo desse pressuposto de que, somos o que somos porque
fomos ensinados (e por muitas vezes doutrinados) a ser o que somos, o processo
de reconstrução humana seria difícil.
Em um primeiro momento, a
reconstrução completa da sociedade precisa ser deixada de lado. Para uma
mudança “completa”, antes é preciso pensar individualmente (com vários
indivíduos já reconstruídos, a sociedade em si já entra num processo de
melhoramento). Nietzsche já dizia: "torna-te quem tu és". E esse é o
primeiro passo para reconstrução: admitir a própria realidade, olhar para si e
identificar o que precisa ser reconstruído (ou até mesmo desconstruído).
Entretanto, admitir a
própria realidade é uma tarefa difícil. Nossa sociedade possui características
extremamente salientes que são facilmente negadas por ela (como o racismo, por
exemplo). E é aí que Paulo Freire - e sua concepção bancária da educação -
entram em cena. Freire debate a forma como a educação ocorre na sociedade, e
como isso pode influenciar o educando.
Na educação bancária, o
educador apenas “deposita” o conhecimento, sem conduzir de forma efetiva o
processo de aprendizagem, sem instigar o aluno. Na educação “problematizadora”
(o contrário da bancária), o aluno tem maior desenvolvimento de sua capacidade
de pensar, de raciocinar. Nesse ato do “pensar”, o educando tem muito mais
capacidade de admitir a própria realidade e identificar o que precisa ser
reconstruído para então entrar nesse processo.
Reunindo tudo o que foi
discutido, concluímos que para reconstruirmos nossa sociedade devemos, antes de
tudo, reconstruir a nós mesmos. Para tal, é preciso reorganizar a forma como a
educação é imposta, buscando instigar o educando, desafiá-lo a pensar - e é
pensando que ele admite a própria realidade, que identifica o que precisa de
“reparo” e entra efetivamente no processo de reconstrução.
Texto
de Filosofia – OLIFRS
Ingrid Baggio Smalti
Qual é o caminho para a
reconstrução de nós mesmo? Foi essa pergunta que guiou os debates da 7ª
Olimpíadas de Filosofia do Rio Grande do Sul. Durante esses dois dias de
reflexão, pudemos discutir não apenas o caminho para essa reconstrução, mas
também se a mesma é possível, dado o contexto que vivemos hoje. Entramos em
contato com diversos filósofos, tais como Karl Marx, Epicuro, Aristóteles e até
Zygmunt Bauman, que aborda questões muito atuais relativas ao comportamento e
relacionamento das pessoas num tempo onde a tecnologia está à frente de
qualquer contato social.
Um dos palestrantes, Doutor
Ricardo Rangel Guimarães, iniciou a conversa colocando alguns princípios a
serem analisados para trabalhar com a reconstrução, onde primeiramente deveríamos
partir de uma perspectiva do ‘eu’, ou seja, conhecimento do próprio estado
mental, e em um segundo momento analisarmos a relação do sujeito com o mundo e
não consigo próprio, e assim tentar definir quem é o eu e quem é o outro.
Já o segundo professor citou
filósofos como Nietzsche e Habermas, propondo antes de uma reconstrução, uma
desconstrução, e o mesmo levantou a questão se há uma identidade definida a ser
realizada.
Por último assistimos à
professora Janaina Bujes que partiu de uma citação de Mia Couto para
desenvolver um diálogo sobre o medo e sobre a judicialização das relações
sociais.
Em uma das oficinas
trabalhamos com o conceito de felicidade, que é um ponto muito importante para
nos reconstruirmos. Discutimos o conceito de Hedonismo e Eudaimonismo, e se é possível
alcançar uma felicidade plena.
Apesar das diversas ideias e
opiniões que surgiram no decorrer dos debates, chegamos ao consenso de que a
reconstrução não se dá de maneira individual, mas sim coletiva. Particularmente
acredito que a reconstrução é viável apenas quando o próprio indivíduo analisa
suas atitudes, relacionamentos em diversos âmbitos sociais, como trabalho,
família, escola, e a partir dessa reflexão realiza as mudanças cabíveis.
Concordo até certo ponto que essa reconstrução necessita do coletivo, mas creio
que o único ponto de partida possível é ponderando sobre suas próprias ações,
de uma maneira bem individual.
Por
que os homens deviam ser feministas?
Priscila Dal Lago
Nenhum menino recebe
instrução para ser sensível, não lhe educaram para cuidar dos filhos enquanto a
mulher trabalha fora. E se fossem educados para ser sensível, o que mudaria se
fossem?
Normalmente o feminismo é
uma palavra discriminada, porém, o que seria?
No mês de setembro Emma
Watson (eleita a nova Embaixadora da boa vontade pela ONU) foi considerada a
pessoa que mais se destacou na internet. A moça de vinte e quatro anos
emocionou mais de duzentos e cinquenta pessoas com um discurso sobre igualdade
de gêneros, o quanto o direito das mulheres ainda se prende a sua classe
social. Pensamos com esse discurso: Seria mais fácil as mulheres mudarem e
assumirem uma nova postura “mais forte” ou os homens se sensibilizarem?
Queremos, almejamos, lutamos
e sangramos por direitos igualitários. A melhor forma de mudarmos os homens não
é impondo os nossos desejos, e sim mostrarmos à outra parte o por que vale a
pena mudar.
Criemos nossos filhos para
respeitar, e o feminismo não será mais absurdo.
Auxílio
mútuo no pensar
Roberta Gabbardo
À
reconstrução humana são atribuídas diferentes definições que se diferem e
completam por pessoas cujas visões de mundo são singulares entre si. Comumente
a maior parte das definições remete a uma mudança que eclode do nosso interior,
sendo gerada por iniciativa própria ou externa; às vezes ambas.
Em
algum momento da história Descartes disse: “Penso,
logo existo”. E muito embora haja existências desvinculadas com o ato de pensar,
essa afirmação é válida, pois ao pensarmos nos tornamos autoconscientes da
nossa existência individual. Existimos para pensar, ouso acrescentar, e nesse
contexto, pensar nada mais é que um sinônimo para questionar. Portanto, para
haver uma reconstrução humana é necessário que seus futuros beneficiados
possuam senso crítico.
Nietzsche
defendia um ideal de super homem, onde as pessoas se elevam através do esforço
e educação conciliados com a sociedade como instrumento. E se a sociedade é uma
influência para o homem, logo a reconstrução humana não depende somente de nós
mesmos, pois ela deve ser mútua. Para Nietzsche, a humanidade não é levada tão
em conta quanto o seu ideal de super homem individualista. Nesse ponto ouso
criticar essa concepção em especial de Nietzsche, pois deve-se ter em mente que
o ser humano necessita conviver com seus iguais, o que fortalece a nossa
humanidade. É a partir dessa convivência que não só nos reconstruímos, mas
também auxiliamos na reconstrução do próximo.
Mas
para que haja uma reconstrução é preciso haver uma desconstrução, pois como
dizia Voltaire, nada acontece sem causa. Nos descontruímos dos preceitos a nós
impostos e que nos aprisionam para em seguida nos reconstruirmos a partir de
novas ideias e experiência partilhadas.
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