Perfis

 
















ABAIXO VOCÊ ENCONTRA A REDAÇÃO DOS OITO PERFIS QUE SERVIRAM COMO BASE DAS EQUIPES NA OLIMPÍADA DE FILOSOFIA. 

Escolha um destes perfis para tomar por base na redação do seu texto filosófico sobre o tema da Olimpíada: Qual o caminho para a reconstrução de nós mesmos?

A vida feliz e a ética - com inspiração no pensamento filosófico de Platão, Aristóteles e Epicuro.
Para início de conversa, pergunto-lhes. Você é feliz? Porque?  O que é a felicidade? Como devemos agir para sermos felizes? Conversem entre vocês e após responderem retomem a leitura do texto.
Acredito que talvez todos vocês ou quase todos responderam que a felicidade está em viver bem. Então, só para confirmar a reposta, novamente pergunto: Como posso viver bem?  Pergunte aos seus colegas e depois retome o texto. 
Talvez você esteja pensando: Porque começamos esta olimpíada falando de felicidade? Afinal qual a relação entre felicidade e o caminho para reconstrução de nós mesmos?
Pois bem, faz mais ou menos 25 séculos que a filosofia começou e desde então os gregos antigos e nós hoje nos perguntamos sobre a felicidade e sobre os caminhos possíveis para para tal felicidade?
Então vamos conversar com nossos amigos filósofos para ver o que pensam sobre a felicidade. 
O homem sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena.
Para o filósofo grego Aristóteles, que viveu no século IV a.C., a felicidade (em grego: eudaimonia) é uma atividade (não é um estado, tal como “agora estou feliz”, “agora não estou feliz”) de acordo com o que há de melhor no homem. Ainda segundo este filósofo a felicidade inclui o atendimento às necessidades vitais e aos prazeres da vida mas só atinge o seu grau mais elevado quando é orientada racionalmente: buscar aquilo que é duradouro e não apenas aquilo que é passageiro. Desse modo, ser feliz é ser virtuoso: ou seja aprender a viver bem com os outros. Mais ainda: quem conhece racionalmente o que é viver bem (viver feliz) sempre agirá de modo virtuoso porque buscará o que é o melhor e não apenas o que lhe satisfaz. Com isso, vemos que a concepção aristotélica de felicidade diverge em muito de concepções atuais que consideram a felicidade como a paz de espírito ou um estado durável de emoções positivas. Ser feliz não é o mesmo que estar contente.
Mais tarde, Epicuro, que viveu entre os séculos IV e III a.C., ampliou a ideia de felicidade. Para ele a melhor maneira de alcançar a felicidade é através da satisfação dos desejos de uma forma equilibrada, que não perturbe a tranquilidade do indivíduo. Para tal filósofo a felicidade está na ausência da dor. Também na eliminação das crenças religiosas e superstições que causam angústia e infelicidade. Sugere a moderação e eliminação dos desejos.
Com estes e outros pensadores podemos aprender que o homem busca afastar-se do sofrimento e aproximar-se da felicidade. Agir bem é sempre agir de modo a promover a felicidade. Para isso é preciso ter clareza do que é que de fato promove felicidade de modo duradoura e não somente a satisfação momentânea.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes os seguintes critérios de tomada de decisão e de ação:
      Para alcançar a felicidade é importante cuidar das necessidades básicas da vida e da satisfação, mas somente aquilo que é duradouro (racional) é que promove a plena felicidade.
      A felicidade não é a mesma coisa que a satisfação (estar contente).
      Quem busca a verdadeira felicidade age sempre de modo virtuoso (age com excelência, buscando o melhor).
      Quem conhece a felicidade e a busca racionalmente nunca agirá pelos seus interesses imediatos, mas cuidará também do bem estar da sua comunidade para que todos possam viver felizes.

Construção social e trabalho - com inspiração no pensamento filosófico de Marx e Adorno
Alguma vez você já parou para pensar o quê, exatamente, faz você ser você mesmo? Talvez o corpo, ou o pensamento, a família, amigos, as roupas que você veste... Essa questão pode ir muito mais longe do que você imagina. Algumas coisas das quais normalmente não nos damos conta podem ser fundamentais na constituição daquilo que somos. Marx, filósofo alemão do século XIX, pensou muito sobre esta questão. Para ele, o homem se constitui como tal a partir da sua ação sobre o mundo, isto é, o seu trabalho. Através do trabalho, construímos a nós mesmos, pois nos colocamos nele e agimos a partir dele: o trabalho reflete o que somos, e nós refletimos aquilo que fazemos. Mas... e um operador de telemarketing? Aquele sujeito que liga pra sua casa oferecendo um novo plano de telefonia, ou o último lançamento em matéria de cartões de crédito. Será que ele se realiza através do trabalho que desempenha? Um serviço chato, repetitivo, mal-remunerado, é capaz de dar espaço para que ele possa ser ele mesmo? Para Marx, este exemplo configura uma típica situação de exploração, na qual o trabalhador está alienado, isto é, distante de si mesmo. Seus planos, projetos pessoais, sonhos e vontades não cabem ali, naquela função que desempenha. Aquele trabalho não contém absolutamente nada que lembre a pessoa que o realiza.
Mas... não é só um operador de telemarketing que enfrenta esta situação. Qualquer relação de trabalho pode ser alienante, na medida em que, ao produzir, não me produzo. Os burgueses (donos dos meios de produção), contudo, necessitam de mão-de-obra – de preferência, alienada – para atingir os seus interesses econômicos. Qual seria, então, a saída para isso?
Outro filósofo alemão, discípulo de Marx, propõe uma solução para este conflito. Theodor Adorno (séc. XX) diz que, ao se dar conta de uma situação de exploração/alienação, o trabalhador pode – e deve – engajar-se na luta política, buscando melhorias nas condições de vida e de trabalho. Isso se chama movimento dialético. A partir da sua participação em, por exemplo, um sindicato ou uma associação de moradores de uma determinada comunidade, o trabalhador pode reivindicar várias coisas visando a um bem comum, isto é, o bem da coletividade na qual ele está inserido. O interesse do grupo (especialmente da sociedade) tem sempre prioridade sobre os interesses individuais.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes os seguintes critérios de tomada de decisão e de ação:
a) O ser humano se constitui através do trabalho, que deve ser uma ferramenta de realização. Por isso, avalie as situações pelo seu caráter de realização humana.
b) Lembre que o trabalho se converte em alienação quando, ao produzir algo, eu mesmo não me produzo. Por isso, em todas as decisões, avalie o quanto há de realização ou alienação.
c) A partir da compreensão dialética (permanecer as possíveis contraditoriedades e conflitos), o homem tem a possibilidade de modificar a sua realidade, inserindo-se na luta política. Por isso, todas as decisões devem ser tomadas de modo a realizar sínteses entre opostos e buscar o melhor na vida social e política.
d) Os interesses sociais (coletivos) devem sempre se sobrepor aos interesses individuais.


Responsabilidade para com o outro - com inspiração no pensamento filosófico de Levinas, Jonas e Gadamer
 Os seus pais são responsáveis por você? Se você tivesse um irmão mais novo, você seria responsável por ele? Se seus pais fossem idosos, você seria responsável por cuidar deles? Se a sua turma na escola faz bagunça na aula, você é responsável? Se o prefeito administra mal a cidade, seus eleitores podem ser considerados responsáveis? As pessoas que usam carro podem ser consideradas responsáveis pela poluição do ar? Os países ricos que consomem a maior parte dos recursos naturais são mais responsáveis pela crise ambiental do que os que consomem menos?
Responsabilidade é um tema muito defendido politicamente, mas muitas vezes por pessoas pouco responsáveis. A responsabilidade pelo outro não parece ser mais algo que agrade ao homem. No mundo atual devemos ser responsáveis pelo outro? Ou deveríamos deixar para cada um resolver seus problemas? Como podemos ser responsáveis em um mundo tão rico em diversidades culturais? Seria correto dizer que se é responsável num contexto e irresponsável em outro? Hans-Georg Gadamer, Emmanuel Levinas e Hans Jonas são alguns exemplos de filósofos que tematizam a relação com o outro e possibilidades de responsabilidades envolvidas.
Qual o caminho para a reconstrução de nós mesmos? Seria o termo "responsabilidade", o melhor caminho para essa reconstrução? Se a responsabilidade for o caminho para a reconstrução de nós mesmos, então é preciso ter claro o que significa responsabilidade e sobre quem ou o que é que somos responsáveis.
Com Emmanuel Levinas somos provocados a pensar sobre a relação com o outro. Segundo o filósofo eu nunca posso saber quem é o outro, nunca posso ter uma certeza sobre o outro. Pois o outro não é como uma coisa que pode ser definida. O outro tem sempre algo de misterioso. E é o outro que se mostra a mim, não eu que o “tomo para mim” (somente uma coisa é que pode ser tomada para si). A responsabilidade para com o outro não é propriedade e nem controle, mas é gratuidade: resposta responsável ao que o outro precisa.
Com Hans Jonas somos convidados a pensar sobre nossa responsabilidade para com as pessoas que ainda estão por nascer. Precisamos cuidar do planeta hoje de forma responsável para que seja possível a vida de outras pessoas depois de nós.
Com Hans-Georg Gadamer somos convidados a pensar sobre o papel do diálogo na relação com o outro. Segundo o filósofo é somente pelo diálogo que de fato podemos construir uma relação autêntica.
E o que tudo isso tem a ver com a reconstrução de nós mesmos? Cada ideia desses filósofos aponto a possíveis caminhos e todos esses caminhos indicam uma dimensão da responsabilidade. Cada caminho possibilita nos compreendermos de um modo novo e assim nos reconstruirmos a cada instante.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes as seguintes orientações para pensar o caminho para reconstrução de nós mesmos:
·         Cuidar das pessoas e da natureza. Tanto a natureza quanto o ser humano, são partes constituintes do mundo.
·         Buscar o diálogo face a face. O diálogo é a ação de todo o ser humano para chegar a responsabilidade.
·         Respeitar as diferenças do outro. Somente podemos ser responsáveis, se houver outra pessoa que precise de nossa responsabilidade.
 

Cuidado de Si - com inspiração no pensamento filosófico de Nietzsche e Foucault
Quando falamos em cuidado de si não estamos falando que a pessoa deve pensar apenas em si própria e esquecer os outros a sua volta, isso está mais próximo ao egoísmo do que o cuidado de si. Mas então como é que alguém pode dar atenção a si sem pensar apenas em si mesmo? Calma! Ninguém ficou maluco... por enquanto.
A questão não é exatamente esta. Na verdade, podemos considerar que o cuidado de si é importante principalmente porque vivemos sempre rodeados de outras pessoas. Essas outras pessoas ao dividirem o mesmo espaço conosco influenciam o modo como agimos e interpretamos o mundo.
Agora, deixe a timidez de lado e olhe nos olhos das pessoas a sua volta com atenção e pare de ler por um instante. Essas pessoas que te cercam aqui viveram coisas diferentes das que você viveu, possuem valores e gostos que nem sempre são os mesmos que os seus e passaram por experiências que fizeram delas indivíduos únicos assim como você. Percebe isso? Será que o fato de você estar aqui, com estas pessoas, acrescenta algo no que você é?
Você acha que é um ser humano perfeito? Será que devemos mesmo aprender a aceitar nossas limitações e imperfeições para poder chegar perto de compreender o outro? Por quê?
Foucault e Nietzsche trabalham a ideia de que o cuidado de si é um domínio de si mesmo, no sentido de ter uma habilidade em lidar consigo próprio, domar a fera que há dentro de você; entende? Quais seus piores defeitos e suas melhores qualidades? Pergunte para um de seus colegas de equipe! E aí, teve uma surpresa ou confirmou o que já sabia?
Talvez, a filosofia possa ser um dos caminhos pelos quais podemos descobrir como lidar melhor com nós mesmos e acalmar nossos instintos felinos. Será então que aprimorando melhor essa nossa capacidade de conhecimento do que nós somos, daquilo que construímos em nós mesmos até aqui, seria possível compreender o outro com mais sensibilidade? Será que esse é o caminho para criar relações mais significativas de convivência?
Certo, não fique aí parado, vá em busca de desvendar esse mistério que é......VOCÊ!
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes as seguintes orientações para a tomada de decisão e para a ação:
  • O momento é agora: não existe idade para se ocupar consigo mesmo e o cuidado de si não ocorre sem a ajuda do outro.
  • O cuidado de si é um princípio de elaboração e organização pessoal/individual.
  • Uma vida harmoniosa em sociedade é resultado do cuidado de si.
  • Somente aceitando nossas próprias limitações e imperfeições é que o podemos chegar perto de compreender o outro.
  • O cuidado de si consiste em uma constante busca pelo melhoramento e compreensão de si mesmo.
  • A prática do cuidado de si não constitui um exercício da solidão, mas sim uma verdadeira prática social; pois aprendendo a cuidar de si próprio, aprendemos a conviver  em  sociedade  e a  viver  harmoniosamente.

É necessário fazer escolhas - com inspiração no pensamento filosófico de Heidegger e Sartre
Vivemos em uma realidade com inúmeras possibilidades, escolhas e identidades, não acham? Já perceberam as diferentes pessoas, lugares e culturas que os cercam? Será que a forma como vivemos afeta outros? E nós, somos afetados por eles? Seguimos algum padrão comum de ser? Alguns vivem fechados em si, outros abertos a mudanças ou ainda obrigados a mudar. Será que para ser livre e independente, basta fazermos nossas vontades? Será isso o “ser dono de si”? As escolhas limitam-se a nós ou podem mudar o mundo? Construímos nossa identidade a partir delas, mas será que podemos nos reconstruir? E servir de exemplo ou influência à (re)construção de alguém além de nós mesmos é possível?
Bem, quando nos damos conta que estamos no mundo, precisamos admitir que não existe um destino pré-determinado que guie as nossas vidas ou posturas para qualquer fim. Nem sequer possuímos um modelo padrão ou ideal fixo a ser seguido para sermos verdadeiramente humanos. Ou seja, meus caros, suas vidas são um leque de possibilidades na qual somos responsáveis pelo que escolhemos fazer ou ser. Deveríamos ser livres para escolher. Mas será que realmente o somos? Quaisquer que sejam as suas respostas para esta pergunta amigos, a única certeza é de que vocês devem estar sempre prontos e dispostos a escolher, agir e tentar transformar o aqui e agora num mundo ideal. Aliás, essa necessidade está em todos os aspectos de suas vidas, seja no amor, família ou amigos, o tempo todo, até mesmo sem que percebam. Tudo necessita ser organizado e construído por vocês e em cooperação com os outros na busca de um melhor viver.
E tem mais: sem objetivos a nossa vida se torna vazia e é aqui que alguns de nossos amigos filósofos, como Sartre e Heidegger, buscaram refletir e compreender a responsabilidade do existir, criar o que somos, modificar e gerar caminhos, ser alguém melhor evitando erros. Isso tudo é responsabilidade de todos nós que existimos no mundo. Somente o homem é responsável pela sua existência. Tudo que construímos pode e deve ser refletido, construído e reconstruído constantemente.
E isso é tão sério que na vida só há um momento em que você não tem liberdade de agir ou deixar de fazer algo para a humanidade. E aí, será que já descobriram qual é esse momento, meus caros filósofos? Logo vos direi. Antes, porém, digam-me vocês: vale a pena jogar-se a uma vida sem sentido? Aliás, para qualquer resposta ou pensamento que criarmos juntos, terão de escolher, concordar ou discordar, mesmo que em silêncio. Não é?! Isentar-se da responsabilidade de participar na escolha é o princípio da atitude de abandonar a vontade de viver. Se negamos nossas responsabilidades como seres humanos constituidores de nossa existência social e do mundo como ele ou pode vir a ser, então perdemos nossa humanidade. Agora sim podemos responder juntos àquela questão anterior, sobre o único momento em que não temos oportunidade de escolher: é quando a visa esvai-se de nós, ou seja, a morte. Viva enquanto podem meus caros. Não adianta esperar de braços cruzados para que as coisas mudem e aconteçam, elas devem começar primeiramente dentro de nós mesmos e a nós cabe sua expansão. Mas lembrem-se sempre: viver implica fazer escolhas a todo momento. Eis a liberdade!
Então, ao longo dos desafios que lhe serão apresentados para encontrar o caminho de reconstrução de nós mesmos, lembrem dos conselhos que seguem:
·         Conheçam o mundo para se construir entre as muitas opções que a vida vos dá, que de nada servirá se não houver envolvimento e dedicação própria na busca do que nos é necessário criar ou modificar;
·         Encarem a vontade de ser humano. Construir culturas depende de vontade e metas. Somos responsáveis por cada movimento ou direção que produzimos para a realidade que vivemos;
·         O ser humano é e pode ser o que ele decidir, podendo mudar sempre e a qualquer instante, ou seja, és livre para se projetar, ser e agir de diferentes maneiras ao seu desejo e consciência;
·         Por fim, imaginem-se como atores que representam papéis particulares. Criem a todo instante cenas que fiquem registradas em uma história maior, na qual cada um de vocês se tornam roteiristas a deixar sua marca nesta grande composição da vida. Assim é nossa sociedade. Somos compostos de muitos atores que se reinterpretam a cada dia na esperança de serem úteis a formar obras melhores e com resultados mais felizes.


Liberdade como autonomia - com inspiração no pensamento filosófico de Kant
Já que estamos numa Olimpíada de Filosofia, que tal começar com um desafio? Este será um desafio intelectual. Você está em casa e um amigo seu chega lhe pedindo ajuda desperadamente dizendo-lhe: “há um bandido à minha procura que quer me matar!”. Seu amigo lhe pede para que você o esconda e você o deixa entrar na casa. Pois bem, agora vou complicar um pouco mais. Instantes depois voltam a bater a sua porta e eis que chega o bandido que quer matar seu amigo. Você sabe que ele é o bandido. Mas o bandido quer enganar você e se faz passar por uma boa pessoa e lhe pergunta sobre aquele seu amigo que está ali escondido. Agora vem o desafio: o que é o certo a fazer? Você deve falar a verdade para o bandido ou mentir para ele? Conversem um pouco entre vocês...
E então, o que decidiram: mentirão ou falarão a verdade? Se a resposta de vocês for algo parece com “neste caso o melhor a fazer é mentir, pois somente mentindo é que se poderá salvar a vida do amigo”, então vocês agora terão de explicar-se com um filósofo alemão do século XVIII: Immanuel Kant (e pronunciem “Kânt” e não “Ként”, pois ele não era parente do superman).
Segundo Kant o modo correto de decidir e agir nunca é orientado por aquilo que é próprio de uma ou outra situação. Neste caso e em qualquer outro não importa a possível consequência do ato (mentir ou falar a verdade), mas importa a possibilidade daquela decisão ter valor universal. Está ficando difícil?! Eu nunca disse mesmo que iria facilitar a vida de vocês... Filosofia é para os fortes! Mas vou explicar de outro jeito: as decisões devem orientar-se por princípios, não por experiências particulares. Princípios são universais. Experiências particulares, como a expressão sugere, mudam conforme os acontecimentos. Se eu me deixar levar por particularidades, as decisões não serão confiáveis, pois poderão mudar em cada situação. Mas se eu decido conforme princípios, então se saberá que haverá sempre coerência mesmo em situações distintas.
Então, segundo Kant: ou é legítimo mentir como um princípio com validade universal, ou é legítimo falar a verdade com validade universal? Qual opção parece ter valor universal? Com a licença do seu amigo ameaçado pelo bandido, o que deve servir como critério de tomada de decisão é aquilo que tem valor universal. Ou seja: o certo a decidir é manter-se coerente com a verdade.
A esse modo de pensar chamamos principialismo: decidir e agir conforme princípios que tem valor universal. Para o principialismo o foco é com a intenção do agir. Dessa forma, as ações são decididas, não pelas suas consequências possíveis, mas pelos princípios que são aceitos universalmente e que motivam o agir (intenção).  Assim, podemos notar que em qualquer situação devemos sempre agir conforme uma moral universal. E para agirmos de forma bem pensada precisamos fazer uso principalmente da Razão, deixando de lado as emoções, os desejos e os sentimentos, dando maior prioridade para a faculdade da razão, aquilo que nos tira da ingenuidade, permitindo que possamos entender as coisas melhor, e a partir disso tomar uma decisão bem acertada.
Para nos tornarmos verdadeiramente humanos temos de nos elevar a uma condição racional. Isso significa sair de uma primeira condição de natureza e buscar a razão. Agir por impulsos e interesses é não ser livre, é ser escravo dos desejos. Mas é de fato livre quem guia suas escolhas sempre pela razão. E orientar-se pela razão é sempre agir com vistas ao que pode ser universalmente aceito.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes os seguintes critérios de tomada de decisão e de ação:
·         As decisões deverão sempre ser tomadas considerando o que tem valor universal e não o contexto particular dos envolvidos;
·         As decisões deverão sempre ser tomadas sem que os interesses ou os sentimentos determinem as escolhas, mas considerando o que a razão indica ser o correto.



Agir com vistas a alcançar a máxima felicidade - com inspiração no pensamento filosófico de Bentham e Stuart Mill
Vou logo começar fazendo-lhe uma pergunta: você acha certo mentir em nossa sociedade? Ou ainda: você acha que mentir seja uma boa prática na sociedade? Pergunte aos seus colegas o que pensam e depois retome este texto.
Retornando: sou capaz de apostar que muitos de vocês ou talvez todos vocês tenham dito que mentir não é uma boa prática em sociedade. E não vale ficar com cara de “isso não e comigo” igual esse garoto aí perto de você. Vamos ver qual é o alcance do que eu disse. Imagine que você esteja diante de alguém que você sabe ser um terrorista e ele lhe pergunte onde está o diretor da escola. Ora, você sabe (mas ele não sabe que você sabe) que ele pretende sequestrar o diretor para obter as chaves e depois colocar bombas na escola. E você sabe onde está o diretor. O que é o melhor a fazer: dizer a verdade ou mentir? Se você falar a verdade acontecerá um grave atendado, mas se você mentir esse atentado será evitado. Converse sobre isso com seus colegas.
Imagino que vocês chegaram à conclusão de que neste caso em particular, mentir é o melhor a fazer, ainda que não se aceite que sempre se possa mentir. Então, no mínimo, vocês terão de concordar que em alguns casos específicos o melhor a fazer possa ser mentir. E, portanto, não há uma regra que valha sempre da mesma forma (nem sempre mentir, nem sempre falar a verdade).  Os filósofos Bentham e Mill diziam que as ações devem ser guiadas pelas consequências que elas possam trazer. Ou seja, todo o agir deve ser orientado pela busca da maior felicidade para o maior número de pessoas. Ainda que não se possa levar a felicidade a todos, deve-se sempre buscar a maior felicidade possível.
Ora, se pensarmos nos possíveis caminhos para a reconstrução de nós mesmos e considerarmos que vivemos em sociedade, não teremos de admitir que a felicidade e o bem comum sejam uma condição a ser atendida? Avalie com seus colegas a importância dessa linha de pensamento para a vida pessoal e em sociedade.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes os seguintes critérios de tomada de decisão e de ação:
·         As decisões devem ser tomadas não em função de convicções (princípios), mas considerando as possíveis consequências que suas ações causem;
·         O critério para decidir o que é o melhor a fazer deve sempre ser a promoção da maior felicidade para o maior número possível de pessoas;
·         Todas as decisões devem ser tomadas com imparcialidade, ou seja, sempre com vistas ao bem social e nunca em função dos interesses pessoais.


A relação entre a obra de arte e a arte de viver - com inspiração no pensamento filosófico de Schopenhauer
O que seria contemplar o Belo? Como podemos definir o que seria uma obra de arte, e o que não seria? Imagine chegar em um grande museu e impactar-se com a beleza de obras de grandes artistas como Leonardo Da Vinci e Van Gogh? Mas o que é o gosto? O que é Belo ou bonito para mim necessariamente não precisa ser para você. E será que frente à obra de arte, ou de uma paisagem exuberante, que nos impacte, alcançamos uma nova dimensão ao nos entregarmos à contemplação? Será que admirar a beleza não nos faz esquecer o sofrimento?
Bem, essas e outras questões fazem parte da estética, uma área da filosofia bastante refinada e muito próxima da nossa vida. Uma boa música, um filme, e outras formas de expressões artísticas fazem parte da estética (não só arrumar os cabelos e pintar unhas chama-se estética). A estética trata da percepção, sensação, sensibilidade. O seu objetivo é estudar a natureza do belo. Afinal, como podemos dizer que uma coisa é bela ou não? Agora olhe para o colega ao lado e pense, será que ele(a) é belo(a), ou aquilo que possui de belo é que faz parte da beleza? É importante ter presente que a estética está sempre relacionada com algo que ultrapassa as coisas do quotidiano e nos eleva para uma dimensão superior, de algo que possamos chamar de sublime.
O Filósofo Alemão Schopenhauer diz que a única forma de atenuar o sofrimento é através da arte, e para ele a arte mais elevada é a música, pelo seu caráter universal. Schopenhauer, é conhecido como o filósofo do pessimismo, por considerar que viver é sofrer, mas esse sofrimento é possível de ser controlado (o que não o torna tão pessimista assim), quando entendemos que somos seres movidos pela vontade. Quando entendemos isso, sentimos compaixão pelo outro, pois o outro também é um ser que sofre.
Cada um de vocês está se dando conta que é Vontade? É isso que somos: nós somos vontade! Isso mesmo, povo estético, é fácil ser uma pessoa estética sem mesmo ter ido a algum lugar para alisar os cabelos, fazer as unhas e outras coisas. Estética é algo bem mais profundo e está intimamente relacionado com a reconstrução de nós mesmos. E se passarmos a apreciar a beleza com olhos estéticos, faremos um movimento de melhoramento de nós mesmos. Contemplaremos o simples e valorizaremos a vida e o outro muito mais do que já dávamos importância.
Agora o mundo mudou, um simples olhar para uma cadeira, um galho de árvore ou uma melodia nos pensar sobre como as coisas simples são belas, mesmo que ainda não tivéssemos percebido. Pela vontade nos tornamos seres estéticos. Assim prosseguiremos nessa jornada em busca do caminho da reconstrução de nós mesmos.
Ao longo dos desafios que lhes serão apresentados tenham sempre presentes os seguintes critérios de tomada de decisão e de ação:
·         Se entendermos que nosso semelhante está no mundo, e assim como nós sofre, então devemos ter compaixão, nos solidarizarmos, pois só assim, nos tornamos seres melhores;
·         Para sermos melhores, precisamos nos constituir como tal, e a “Estética” é um dos caminhos para que possamos tomar boas decisões, esse é um caminho possível para uma boa “formação”;
·         A falta de compaixão com o outro gera degradação do ser humano, não há beleza, só dor, por isso é importante decidir ajudar o outro a fim de que as pessoas possam ver o mundo mais belo, do contrário como ver beleza, enquanto nosso semelhante sofre.

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