E conhecemos o passado?

Título: E conhecemos o passado?

Ementa: A filosofia nos ajuda a duvidar de tudo. Até mesmo dela! Como conhecemos o nosso passado? Será que tudo o que aprendemos sobre ela é verdadeiro? Nesta oficina vamos colocar em cheque algumas ideias com mais de 2500 anos para repensarmos como e o quê, de fato, podemos compreender sobre os gregos.

Disciplina: Filosofia

Nível de Ensino: Médio

Série: Todos os anos do Ensino Médio.

Problema: Como conhecemos o nosso passado?

Tema da unidade: Filosofia

Período de execução do plano: Este plano está formatado para o período de 75 min.

Objetivos gerais:

  • Instigar o senso crítico;
  • Indagar sobre outras perspectivas culturais gregas;
  • Debater sobre como validamos um conhecimento.

Conteúdos constituidores da aprendizagem:

  • Frases que possuem uma conotação de senso comum sobre a filosofia;
  • Teorias do conhecimento de Platão e Aristóteles;
  • Debate sobre como conhecemos.

Metodologia:
15 min: Telefone sem fio - Sensibilização
15 min: Classificando as frases - Problematização
15 min: Analisando as frases - Investigação
15 min: Teorias do conhecimento - Conceituação
15 min: Momento final
Telefone sem fio - Sensibilização
Para a sensibilização será feita uma dinâmica chamada de telefone sem fio. Esta consiste que uma frase deva ser dita por um participante, no início de um círculo, e dita ao outro participante que deve repetir o processo até o fim do círculo.
As frases são:
  • Demócrito é um pré socrático;
  • Górgias é um sofista;
  • Sofistas são caçadores de jovens abastados;
  • A filosofia começou em Atenas;
  • Platão e Aristóteles ainda são importantes.

Após a dinâmica cada frase que tenha finalizado o círculo deve ser escrita no quadro. Tendo todas as frases no quadro se inicia a segunda etapa:

Classificando as frases - Problematização
Das frases já postas no quadro se pergunta aos participantes: Cada frase colocada no quadro é uma sentença verdadeira? Algumas de fato são sem dúvidas. Outras são, mas as damos conotações negativas, como por exemplo, quando falamos de sofistas, o que nos vem à mente? O que geralmente associamos é a 3° frase, que é uma das críticas de Platão aos sofistas. Mas algumas são falsas noções que temos como verdadeiras.
O que é preciso para algo ser verdadeiro? Alguém que eu confio precisa me dizer que é verdade? O objeto tem de estar de acordo com a ideia? Ou a coisa tem de ser verificável no mundo? Pensemos algumas premissas. A) Se disséssemos que na natureza não existe vácuo. B) Nada sobrevive no vácuo. C) Um metro é a distância que luz percorre no vácuo em determinado tempo. D) Fulano tem 1 metro e 70 centímetros de altura. E) O que posso concluir disso? Muito do que foi usado como premissa já era falso, o vácuo existe na natureza (no espaço), a segunda é verdadeira, a luz se propaga sem interferência no vácuo. Dessas premissas se levadas todas como verdadeiras, sem problematizar-las podemos concluir que é impossível verificar a medida de Fulano e qualquer outra medida. O uso de falácias permite que tenhamos conclusões falsas, mas tenhamos vencido qualquer debate.
Abre-se um debate no qual os alunos tenham que delimitar quais as frases que são verdadeiras e quais são falsas e por quais motivos. Após o debate se usa as construções feitas nesta etapa para auxiliar a seguinte.

Analisando as frases - Investigação
Neste momento cada frase será analisada, primeiro se parte daquilo que é sabido pelos participantes, após se discute alguns elementos de cada sentença. Pode-se pedir aos participantes que usem o celular para buscarem informações sobre as frases.
Assim teremos:

Demócrito é um pré socrático?
Sabe-se que Demócrito é considerado o pai do átomo. Ele pensou toda uma filosofia. O outro elemento que consta na frase é o pré socrático. O que isso quer dizer? Ele não é anterior a Sócrates, ambos viveram no mesmo período, mas sua filosofia lembrava as formas anteriores de se pensar a Physis. Então ele é, por esse motivo, enquadrado como pré socrático.

Sofistas são caçadores de jovens abastados?
Quem eram os sofistas? Os professores que cobravam pelos seus ensinamentos? Mas professores de que? Até um tempo atrás era chamado de sofista o professor particular que ensinava retórica e ginástica aos jovens gregos na Grécia antiga.
Muitas análises críticas foram feitas sobre isso e hoje se tem uma noção de que todo o homem que era professor, fosse o que ensinasse, retórica, cítara, arquitetura eram denominados sofistas.
Então todo aquele que cobrasse para ensinar a alguém alguma coisa era tido como um. Agora pensamos, será que Platão e Aristóteles não cobravam por suas aulas na Academia ou no Liceu? Aristóteles foi o professor particular de Alexandre o Grande.

Górgias é um sofista?
Já debatemos sobre os sofistas, mas os sofistas não eram filósofos? Por muito tempo os sofistas foram tidos como a escória da história da filosofia, foram criticados severamente pelos filósofos de seu tempo. De fato Górgias era um sofista, mas isso não quer dizer que ele não tinha uma filosofia, Górgias diferente de Platão e Aristóteles sustentava que não existia uma verdade, que tudo se dava na retórica. Podemos estabelecer um início de um pensamento niilista e de uma filosofia da linguagem. Apenas com esses elementos. Nesta frase o que geralmente se leva em conta é que damos uma conotação negativa ao termo sofista e já desgraçamos aquele que carrega esse título. Quantos outros títulos que nós fazemos isso e não nos damos conta?

A filosofia começou em Atenas?
Atenas foi de fato o berço da filosofia? Ou os pré socráticos não eram filósofos? Pois podemos lembrar de alguns como o Pitágoras de Samos, Anaximandro de Mileto, Parmênides de Eléia, Heráclito de Éfeso...

Platão e Aristóteles ainda são relevantes?
A resposta não parece gerar dúvidas, mas a pergunta seria porquê? Pois estão nos livros da escola e das universidades? E Demócrito? E Górgias? Platão e Aristóteles já tiveram muito de suas teorias refutadas, mas mesmo assim os lemos e ficamos impressionados com a sua atualidade.

Teorias do conhecimento - Conceituação
Neste momento, é apresentado uma retomada à dinâmica inicial para exemplificar como o conhecimento era passado antes da escrita. Após, são postas algumas teorias para que os alunos percebam como se dava o debate, entre Platão e Aristóteles, acerca do conhecimento. Destas apresentações cabe aos ministrantes levantarem questões e reflexões sobre a realidade e contexto social dos alunos participantes. Como por exemplo, as redes sociais, mídias, livros e conhecimentos culturais.
Da oralidade para a escrita
Antes da escrita o conhecimento era passado através da oralidade, ou seja, assim como vocês no começo desta oficina, de uma pessoa a outra, de geração para geração. Com a escrita então passamos a ter acesso a primeira fonte da informação. Podemos pensar em quantas frases não foram alteradas apenas na nossa dinâmica inicial. Agora pensem isso ter sido passado de uma geração para outra.
Agora pensem no texto, em um primeiro momento houve pensadores que foram contra, um deles foi Sócrates, pois para ele a escrita era uma traição para a memória. Mas isso não foi suficiente para que seu discípulo Platão não escrevesse os seus diálogos.
Mas o que isso tem haver com a oficina? Muito do que foi apresentado inicialmente foi um conhecimento que se deu quase de forma oral, que não foi investigado, ouviram de alguém, que ouviu de outro e lhes apresentaram. Com o surgimento da escrita podemos verificar o que nos dizem e deste modo ter uma outra opinião, com embasamento.

Conhecimento em Platão e Aristóteles
Para tratarmos sobre um conhecimento verdadeiro, podemos ver como era pensado por Platão e Aristóteles. Será que podemos conhecer algo?
O conhecimento é um grande problema para a filosofia, desde os gregos antigos, se tem discutido e avaliado qual a teoria tem melhor definição e abrange de maneira correta o que é o conhecimento verdadeiro.
Segundo Platão não podemos conhecer de fato as coisas que estão no mundo sensível, pois são apenas representações, cópias imperfeitas do mundo inteligível (Mundo das Ideias). Ou seja, o conhecimento verdadeiro está no mundo das ideias, o qual não temos acesso de imediato, é preciso o uso da razão e reflexão para tentar atingir algum tipo de conhecimento. Platão encontra alguns problemas nessa teoria e para supri-los diz que, como não se pode conhecer de fato o mundo sensível, apenas é relembrado o conhecimento que se aprendeu no mundo inteligível. Ou seja, nada de novo é aprendido, mas tudo é recordado.
Platão trabalha melhor o conceito de conhecimento e como obtê-lo no diálogo Teeteto, onde Sócrates conversa com Teeteto, um jovem, sobre o tema. Ele chega a conclusão que conhecimento é uma crença, ou opinião, verdadeira e justificada. Esse diálogo é um dos mais importantes para a questão do conhecimento, a maioria das teorias posteriores é influenciada por ele.
Aristóteles, para quem o homem deseja naturalmente conhecer, divide o conhecimento em duas faculdades do saber: a faculdade sensível e a faculdade intelectiva. Aprende-se através dos sentidos e da razão, ou do intelecto. Uma faculdade é correlacionada com a outra.
Para Aristóteles nascemos com potencialidades de conhecimento e vamos atualizando as potencialidades conforme as experiências. O intelecto tem função metafísica de potência e ato. A inteligência é a capacidade de conhecer coisas abstratas.
As sensações sempre chegam, atingem o homem, através dos órgãos dos sentidos. Ou seja, através do contato e da percepção. As informações obtidas pelas sensações são organizadas pela percepção, que então permite a imaginação e conduz até a memória, linguagem e ao raciocínio. São os níveis do saber de Aristóteles.


Momento final
Neste momento será colocado em pauta um debate em torno do que eles percebem sobre o seu contexto. Como as mídias, os livros, as pessoas, a cultura que nos inunda de informações e muitas vezes aceitamos de prontidão. Para isso podem ser separadas algumas notícias para serem apresentadas aos alunos, faz-se uso da liberdade tanto do ministrante quando dos alunos trazerem para o debate algo que os chame a atenção e que tenham um conhecimento sobre o assunto, sendo este prévio ou mais aprofundado.

A ideia é que este momento seja para o aluno colocar em prática o movimento de investigação para a formulação de novas percepções sobre os assuntos que chamem a atenção deles e os colocarem para debate no grupo.

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