A ÉTICA NO ENSINO DE FILOSOFIA

A ÉTICA NO ENSINO DE FILOSOFIA
Lucas Adriano dos Santos[1]
lucas.adriano@ucs.br

O presente texto tem como objetivo ampliar a investigação sobre o papel da Filosofia no ensino escolar frente a uma rotina educacional tradicionalmente positivista. Além disso, sugere uma reflexão acerca do trabalho com conceitos relativos à ética em Filosofia, possibilidades de ensino, aprendizagem e sua interferência na formação do estudante. Este estudo compreende as atividades realizadas predominantemente na Escola São Caetano a partir de Abril de 2014 e a as etapas regional e estadual da VII Olimpíada de Filosofia através do Projeto:A formação filosófica e a constituição ética do sujeitopertencente à área de Filosofia do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID-UCS). Desde a elaboração inicial para a primeira oficina, a metodologia de construção das atividades ficou livre para cada um dos monitores. No entanto, o método de planejamento proposto por Silvio Gallo, conceito trabalhado em algumas disciplinas de estágio, foi amplamente utilizado. Dividindo a organização das atividades em: Sensibilização, Problematização, Investigação e Conceituação é possível privilegiar mais o processo de construção e descoberta filosófica afastando-se da ideia de uma atividade conteudista. Afinal, não se deve esperar que o estudante alcance determinado nível, reproduza determinado conceito ao trabalhar com ética em atividades de Filosofia, mas sim, que ele possa ter uma experiência filosófica através desse modelo de organização de aula. Como seria possível realizarmos uma avaliação de ética? Não se trataria de que o aluno fosse capaz de saber distinguir as diferenças entre utilitarismo e consequencialismo apenas, por exemplo; mas que ele soubesse trabalhar significativamente com estas teorias a partir de uma vivência. Por isso, ainda parece difícil afirmar com propriedade que é possível ensinar a ética. Apresentar teorias éticas aos moldes de Gallo e trabalhar com correntes filosóficas de forma a proporcionar uma experiência ético-filosófica aos estudantes têm sido o foco das ações do PIBID porque “(...) a aula precisa adquirir um caráter prático, investigativo, dinâmico, sem no entanto cair no senso comum e no ‘opinionismo’, sem perder a dimensão estritamente filosófica do conceito.” (GALLO, 2006). O principal objetivo por adotarmos esse modo de conduzir nossas atividades tem a ver com o desejo de uma educação libertadora em que o indivíduo possa construir-se a si mesmo, desenvolver autonomia, um cuidado de si “(...) que nos assegura a liberdade obrigando-nos a tornar-nos nós próprios como objeto de toda a nossa aplicação” (FOUCAULT, 2005). O professor é o mediador da atividade, não é visto, portanto, como o detentor de verdades universais. Em uma das atividades da VII Olimpíada de Filosofia em Osório, por exemplo, foi trazido para uma roda de debate um dilema ético na forma de uma pequena história cujo enredo culminava em uma questão. Para responder à pergunta os estudantes precisavam tomar uma decisão que afetaria a vida de cada um dos personagens da história. E é justamente nesse processo, em que o debate simula a realidade com a tomada de decisões, onde a experiência filosófica tem seu espaço. Não se trata apenas de escolher uma atitude dentre um número de possibilidades onde há o certo e o errado, mas é preciso escolher aquela atitude que é a “melhor” atitude e justificá-la perante o grupo. Todos têm seu espaço e o professor conduz a discussão de forma a mediar o debate segundo teorias éticas que podem ser aprofundadas nos momentos seguintes. Dessa forma, ao invés de apresentarmos aos alunos um enciclopédico bloco de conceitos teóricos sobre ética para que eles posteriormente tentem relacionar com sua formação fazemos o caminho inverso: partimos de um problema, uma temática, e seguimos investigando e conceituando aquelas teorias que possam explicar uma tomada de decisão. Esta parece ser uma forma mais eficaz de tratar a ética em aulas de Filosofia, pois o debate pode verter para diversos caminhos. Há mais chances de se aproximar com a vivência dos alunos, tornando a atividade mais significativa, menos direcionada e longe de ser uma simples troca de opiniões, pois o momento de investigação exige pesquisa de conceitos filosóficos para resolver o dilema. O ensino de Filosofia precisa ser balizado por essa liberdade por parte do estudante. Foucault já afirmava que as práticas de liberdade mostram-se como condição fundamental para que o sujeito possa construir eticamente a si mesmo: “A liberdade é a condição ontológica da ética. Mas a ética é a forma refletida assumida pela liberdade (FOUCAULT, 2006, p. 267). O ensino de filosofia não pode ser uma apropriação desmedida de conceitos sobre o que pode ser certo ou não. Diferente das críticas de Foucault às instituições sociais no que diz respeito a sujeição dos indivíduos, devemos fazer das aulas de filosofia momentos onde a ética não seja um conjunto de regras a serem seguidas, mas uma prática onde o aluno pode constituir-se através do contato com essas experiências filosóficas e principalmente da relação de conhecimento de si mesmo. Nas atividades que viemos organizando, o ensino de ética na Filosofia não pretende ser uma vertente disciplinadora. Não faz parte da ética em sala de aula dizer ao estudante o que ele deve considerar como certo e como errado, mas sim, auxiliá-lo a compreender as diferentes maneiras em que essas falas podem ser contempladas. Este artigo apresenta de modo geral as atividades que realizamos ao longo do ano de 2014 no PIBID; além de um enfoque sobre a ética e seu ensino, uma abordagem sobre ética moldada com a mediação do debate e do estudo de teorias filosóficas que não encerram uma ética em si, por outro lado, ampliam a possibilidade de construções à medida que são estudadas.

Palavras-chave: Ética, Ensino, Liberdade.

Referências
FOUCAULT, Michel. Ética, Política e Sexualidade: Ditos e escritos. Vol. V. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
______.  História da Sexualidade 3: o cuidado de si. 8. Ed. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. São Paulo: Graal: 2005.
______.  Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 6. Ed. Trad. Ligia M. Pondé Vassallo. Petrópolis: Vozes: 1987.
GALLO, Silvio. Repensar a Educação: Foucault. Educação e Realidade, [Porto Alegre], v. 29, n. 1, p.79-97, Jan 2004. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/25420/14746>. Acesso em: 19 fev. 2015.




[1] Aluno do Curso de Licenciatura em Filosofia e bolsistas do PIBID/UCS Filosofia, desenvolvido junto à Escola Estadual São Caetano, em Caxias do Sul. Coordenador Prof. Dr. Vanderlei Carbonara. Supervisora: Profa. Ms. Tenisa Zanoto Boeira.

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