O
mito possui uma estrutura interna perfeitamente coerente. Desde o ponto inicial
da história até seu desenrolar final, de modo que tudo está ordenado e possui
uma explicação. Deverá ele ser tomado como fonte de conhecimento? Partindo do
pressuposto que o conteúdo em si do mito é incerto, e, talvez tendencioso a
alguma questão, porém sua logicidade e maneiras metafóricas de entender o mundo
são válidas, parece ser afirmativa a resposta sobre seu proveito em função da
formação humana para algum aspecto do conhecer. O pensamento mítico nos instiga
a refletir sobre o que é a verdade e a mentira, o bem e o mal, o certo e o
errado, através de histórias fabulosas. Afirmar
que o surgimento da filosofia, por exemplo, põe fim a preponderância do mito é
um doce engano, uma vez que a filosofia por si só quando tomada num viés dogmático
e absoluto, de modo a não haver dúvida acaba se tornando ela própria um mito. Assim
se verificou no decurso da história. Aliás, este é um pacato erro humano, a
saber, imaginar que a razão é uma atividade, por excelência, acima de qualquer
saber ou forma de conhecer em todos os momentos. Nesse instante o sujeito
geralmente relega todo saber informal que havia construído tendo em vista a
reta razão. Algo que está ligado ao saber popular, senso comum ou mito. Não
se trata aqui de elaborar um tratado filosófico acerca da defesa do saber mitológico
tal e qual ele se apresenta, de modo fiel. Outrossim, parece ser bem plausível apropriar-se
dele como uma forma possível de
conhecimento. Mesmo porque em muitos casos essa é a única forma de acessar a
história de um povo, e, portanto, conectar-se a sua cultura. Outra questão, para
se relegar o mito por completo seria preciso em principio também verificar cada
mito interno que as pessoas carregam sem notar, em razão de que utilizam estes
de forma científica sem perceber que não passam de argumentos fajutos, na maioria
das vezes reproduzida pela mídia televisiva. Verdadeiros mitos.
Quando um senhor afirma
que vai chover em virtude de observar o tempo há bastante tempo, e a partir de
uma série de evidências particulares chega a tal parecer. Acaba que dessas experiências se forma um tipo de
saber comum, por hora ligado ao mito. Nesse âmbito, não é necessário acompanhar
a previsão do tempo do Kleo Kuhn para saber sobre o tempo, visto que consigo
elaborar um parecer próprio sobre tal tema. Com suas devidas ressalvas, isso
pode ser considerado como uma forma de construir autonomia em muitos casos,
pois, com efeito, através do meu esforço intelectual cheguei a tal saber, seja
ele pouco ou muito complexo. Essa
era uma das formas que os filósofos da antiguidade como Tales de Mileto
utilizava para apreender o mundo, isto é, a observação das experiências mundanas,
posteriormente transformada em um ensejo de saber mais elaborado e teórico, ou poderíamos
chamar de leis.
Será
o mito um estágio de conhecimento? Que se inicia simples e se complexifica na
historia, ganha novas narrativas? Ao findar dessa discussão temos pelo menos
uma certeza, a saber, o que discutimos aqui por si só já é mais relevante do
que assistir algum jornal nacional desinformativo e reproduzir seus mitos científicos.
Ressaltando que tratamos do mito, algo comumente irrelevante e a margem do ser
humano contemporâneo, dado que se considera bastante evoluído.
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