quarta-feira, 5 de abril de 2017

Mito, para quê?

           O mito possui uma estrutura interna perfeitamente coerente. Desde o ponto inicial da história até seu desenrolar final, de modo que tudo está ordenado e possui uma explicação. Deverá ele ser tomado como fonte de conhecimento? Partindo do pressuposto que o conteúdo em si do mito é incerto, e, talvez tendencioso a alguma questão, porém sua logicidade e maneiras metafóricas de entender o mundo são válidas, parece ser afirmativa a resposta sobre seu proveito em função da formação humana para algum aspecto do conhecer. O pensamento mítico nos instiga a refletir sobre o que é a verdade e a mentira, o bem e o mal, o certo e o errado, através de histórias fabulosas.                        Afirmar que o surgimento da filosofia, por exemplo, põe fim a preponderância do mito é um doce engano, uma vez que a filosofia por si só quando tomada num viés dogmático e absoluto, de modo a não haver dúvida acaba se tornando ela própria um mito. Assim se verificou no decurso da história. Aliás, este é um pacato erro humano, a saber, imaginar que a razão é uma atividade, por excelência, acima de qualquer saber ou forma de conhecer em todos os momentos. Nesse instante o sujeito geralmente relega todo saber informal que havia construído tendo em vista a reta razão. Algo que está ligado ao saber popular, senso comum ou mito.                                                                                   Não se trata aqui de elaborar um tratado filosófico acerca da defesa do saber mitológico tal e qual ele se apresenta, de modo fiel. Outrossim, parece ser bem plausível apropriar-se dele  como uma forma possível de conhecimento. Mesmo porque em muitos casos essa é a única forma de acessar a história de um povo, e, portanto, conectar-se a sua cultura. Outra questão, para se relegar o mito por completo seria preciso em principio também verificar cada mito interno que as pessoas carregam sem notar, em razão de que utilizam estes de forma científica sem perceber que não passam de argumentos fajutos, na maioria das vezes reproduzida pela mídia televisiva. Verdadeiros mitos.                                                                    
           Quando um senhor afirma que vai chover em virtude de observar o tempo há bastante tempo, e a partir de uma série de evidências particulares chega a tal parecer. Acaba  que dessas experiências se forma um tipo de saber comum, por hora ligado ao mito. Nesse âmbito, não é necessário acompanhar a previsão do tempo do Kleo Kuhn para saber sobre o tempo, visto que consigo elaborar um parecer próprio sobre tal tema. Com suas devidas ressalvas, isso pode ser considerado como uma forma de construir autonomia em muitos casos, pois, com efeito, através do meu esforço intelectual cheguei a tal saber, seja ele pouco ou muito complexo. Essa era uma das formas que os filósofos da antiguidade como Tales de Mileto utilizava para apreender o mundo, isto é, a observação das experiências mundanas, posteriormente transformada em um ensejo de saber mais elaborado e teórico, ou poderíamos chamar de leis.                                                   
            Será o mito um estágio de conhecimento? Que se inicia simples e se complexifica na historia, ganha novas narrativas? Ao findar dessa discussão temos pelo menos uma certeza, a saber, o que discutimos aqui por si só já é mais relevante do que assistir algum jornal nacional desinformativo e reproduzir seus mitos científicos. Ressaltando que tratamos do mito, algo comumente irrelevante e a margem do ser humano contemporâneo, dado que se considera bastante evoluído.

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